SÃO PAULO (Reuters) – A Polícia Federal prendeu na manhã desta quinta-feira (9) nove suspeitos na Reserva Indígena Serrinha, no Rio Grande do Sul, pelo suposto envolvimento em um duplo assassinato ocorrido há quase dois meses.

De acordo com um comunicado da PF, 300 agentes participaram da operação para prender os responsáveis pelo homicídio de dois indígenas, ocorrido em 16 de outubro. Os crimes estão ligados ao arrendamento de terras para o plantio de grãos como soja dentro da reserva, que tem 12 mil hectares e fica no norte do Rio Grande do Sul.

O episódio de violência ilustra a pressão do agronegócio para ampliar as áreas com cultivo de grãos no Brasil. A realização de atividade agrícola e mineração em terras indígenas é apoiada pelo presidente Jair Bolsonaro. As mortes em Serrinha ocorreram após um grupo de cerca de 20 indígenas ter sido banido pela liderança da reserva, segundo a PF.

A investigação aponta que os indígenas expulsos da comunidade estavam reunidos com o objetivo de protestar contra a liderança de Serrinha quando foram cercados e surpreendidos por um grupo armado e formado por dezenas de apoiadores dos líderes da localidade. Os homens armados dispararam contra os manifestantes e mataram dois indígenas, segundo a PF. O restante do grupo que protestava conseguiu fugir, apesar de ser perseguido e de ter enfrentado disparos de arma de fogo.

Autoridades a cargo da investigação e membros do povo Kaingang disseram que os arrendamentos para produtores de grãos na reserva de Serrinha criaram conflitos no local e em comunidades vizinhas. As disputas recaem sobre como a renda dos aluguéis das terras é distribuída. As prisões desta quinta-feira aconteceram depois que o Ministério da Justiça enviou a Força Nacional de Segurança à reserva, o que ocorreu três dias após o duplo assassinato.

“A motivação que a gente aponta é sempre a mesma nos conflitos indígenas. Historicamente, a questão é a posse da terra pelo cacicado, pelos líderes”, disse o delegado da PF Sandro Bernardi, em entrevista coletiva nesta quinta.

Segundo ele, na Terra Indígena de Serrinha, há 4 mil hectares de produção de soja, que podem gerar 200 mil sacas valendo algo como 30 milhões de reais. Caso haja o arrendamento e uma cobrança de 15% pelo arrendamento, isso geraria para o cacique entre R$ 3 e 4 milhões por ano.

“Este dinheiro é o mote de todas as disputas que a gente vê nesta região”.

Embora o arrendamento seja considerado inconstitucional, um acordo de 2019 entre a Fundação Nacional do Índio (Funai), procuradores federais e a Cotriserra, uma cooperativa de indígenas de Serrinha, permite que as terras da reserva continuem sendo arrendadas para agricultura.

Por Ana Mano

9 dez 2021, às 13h27. Atualizado às 15h33.
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