por Isadora Deip
com supervisão de Giselle Ulbrich

Um ato que relembra os casos de feminicídio no Paraná e marca quatro anos da morte da advogada Tatiane Spitzner, assassinada pelo marido, Luiz Felipe Manvailer, em Guarapuava, vai acontecer em Curitiba na sexta-feira (22). Promovido pelo Instituto Alice Quintilhano, o evento será às 9 horas no Calçadão da Rua XV (Boca Maldita), no Centro da capital paranaense.

A manifestação terá a participação de familiares de mulheres que tiveram suas vidas ceifadas por homens que não aceitaram o fim do relacionamento, além de entidades, parlamentares e ativistas que atuam no combate à violência contra as mulheres.

Em nota, o Instituto Alice Quintilhano relembra que, todos os anos, duas mil crianças ficam desamparadas em decorrência de crimes de feminicídio.

“Mães assassinadas e pais presos, sem rede de proteção famílias penam para se reestruturar. […] Mas apesar da complexidade do assunto, não há no Brasil uma rede de proteção que se articule para facilitar a vida dessas famílias”,

destaca o Instituto.

Ainda segundo o Instituto, a violência doméstica não era tratada com tanto rigor até pouco tempo. Isso mudou com a implementação da Lei Maria da Penha, em 2006, e da Lei do Feminicídio, de 2015. “Esses delitos começaram a ter um olhar da sociedade maior, bem como uma menor tolerância”, diz a nota.

Relembre as histórias

Ketlin Vitória Martins Chagas, Thatiane Borges de Oliveira, Ana Paula Campestrini, Letícia Stefani Inácio Raimundo e Diene Brito. Estas são algumas das vítimas relembradas na manifestação. Relembre estes e outros casos:

Ketlin Vitória Martins Chagas

Ketlin, que tinha 19 anos na época do crime, foi morta a facadas pelo ex-namorado no dia 25 de dezembro de 2021, em Colombo, na Região Metropolitana de Curitiba. A moça estava em um pesque-pague quando foi chamada pelo rapaz para conversar. No entanto, ele surpreendeu a vítima com um golpe de faca.

Ketlin Vitória chegou a ser resgatada com vida e foi encaminhada a Unidade de Pronto Atendimento Alto Maracanã, mas não resistiu. O autor do crime tinha histórico de violência contra a vítima.

Thatiane Borges de Oliveira

A vítima foi morta a tiros pelo ex-marido no dia 30 de abril de 2020, em Fazenda Rio Grande, na Região Metropolitana de Curitiba. Ela tinha 37 anos quando foi assassinada. O ex-marido, Darci da Luz, 46 anos, não aceitava o fim do relacionamento.

Thatiane chegou a registrar boletins de ocorrência e tinha duas medidas protetivas contra o ex, mas isso não impediu Darci de atirar quatro vezes e matar a ex-esposa no meio da rua. A vítima deixou dois filhos, agora órfãos do feminicídio.

Ana Paula Campestrini

Ana Paula Campestrini foi executada a tiros no dia 22 de junho de 2021, no bairro Santa Cândida, em Curitiba. O ex-marido de Ana Paula, Wagner Cardeal Oganauskas, suspeito de ser o mandante do crime, e o amigo do homem, Marcos Antônio Ramon, apontado pela polícia como o atirador que descarregou um revólver contra o carro da vítima, foram presos pelo crime. Os dois homens foram denunciados pelo Ministério Público do Paraná por feminicídio no dia 8 de julho.

Ana Paula havia se separado de Wagner há cerca de três anos e ela e o homem disputavam bens. Além disso, ela lutava para ter acesso livre aos filhos, de 9, 11 e 17 anos. A polícia concluiu que Wagner pagou pelo menos R$ 38 mil para que o amigo, Marcos, com quem trabalhava na Sociedade Morgenau, matasse a ex-esposa.

Letícia Stefani Inácio Raimundo

Letícia, 24 anos, foi morta por estrangulamento pelo ex-namorado, Pedro Henrique, no dia 3 de outubro de 2021 em Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba. O corpo da jovem foi encontrado embaixo da escada do prédio onde a vítima morava.

De acordo com informações da família, Letícia tinha marcas de espancamento e estava com um cordão amarrado no pescoço. Pedro não aceitava o fim do relacionamento com a jovem. Esperou ela chegar em casa um dia, invadiu o condomínio, a matou e escondeu o corpo debaixo da escada do prédio onde ela morava.

Diene Brito

A paraense tinha 23 anos quando foi assassinada a facadas pelo namorado. O crime aconteceu no dia 29 de dezembro de 2021 em Colombo, na Região Metropolitana de Curitiba. Ela foi encontrada morta com facadas no peito e já em estado de decomposição, dentro de sua casa, já depois do ano novo, quando os vizinhos chegaram de viagem e sentiram mau cheiro. A perícia constatou que ela deveria estar morta ali há cerca de quatro dias.

Diane estava grávida de três meses e deixou três filhos.

Tatiane Spitzner

A vítima, que impulsionou a criação do Dia Estadual de Combate ao Feminicídio, foi morta asfixiada pelo marido, Luis Felipe Manvailer, no apartamento onde moravam, em Guarapuava. Em seguida, foi jogada do quarto andar do prédio. Imagens de câmeras de segurança que mostravam agressões contra a vítima pouco antes de sua morte, a queda e também o marido levando o corpo de Tatiane novamente para dentro do apartamento, repercutiram por todo o Brasil.

Em maio deste ano, após um julgamento longo, Luis Felipe Manvailer foi condenado pelo júri a 31 anos, 9 meses e 18 dias de prisão por feminicídio e fraude processual.

Luciane Ávila

A professora Luciane Ávila, de 42 anos, foi morta pelo ex-marido em dezembro de 2019, na frente do filho do casal, em Ponta Grossa, nos Campos Gerais. Em julho de 2021, Marcelo Ávila foi condenado a 18 anos e oito meses de prisão em regime fechado por feminicídio.

Luciane foi brutalmente atacada em frente a escola onde trabalhava e na qual o filho, de 8 anos, também estudava. Na ocasião, ela foi surpreendida pelo ex-marido e esfaqueada, com cinco golpes, na região do peito e das pernas. Ela chegou a ser socorrida, mas não resistiu aos ferimentos. 

Elisangela Martins

A auxiliar de cozinha Elisangela Martins foi encontrada morta em casa, em Contenda, Região Metropolitana de Curitiba, com rosas, uma aliança nas mãos e uma frase escrita na testa, feita com caneta: “morreu por confessar uma traição”. A situação foi registrada no dia 18 de junho de 2021.

O suspeito de cometer o crime, ex-marido de Elisangela, Rudinilsom Martins, de 35 anos, foi preso no dia seguinte e cometeu suicídio dentro da delegacia, na Lapa, momentos antes de prestar depoimento. Familiares de Elisangela contaram que o relacionamento do casal era marcado por brigas e discussões.

Dia Estadual de Combate ao Feminicídio

Desde 2019, o Paraná conta com o Dia Estadual de Combate ao Feminicídio, lei 19.873/2019, de autoria da deputada estadual Cristina Silvestri (CDN) e aprovada na Assembleia Legislativa do Paraná. O objetivo do projeto é usar a data para promover ações unificadas para interromper o ciclo de violência doméstica e evitar mortes.

Dados de feminicídio no Paraná

Segundo dados do Anuário Brasileiro de Segurança, documento publicado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em 2021, o Paraná registrou 75 feminicídios, sendo que o Brasil contabilizou 1.319 casos. O Estado também apresenta um alto número de denúncias de estupro e estupro de vulneráveis (vítimas do gênero feminino), com 5.025 casos em 2021.

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20 jul 2022, às 20h12. Atualizado às 20h34.
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