por Mônica Ferreira
com supervisão de Ederson Hising

Após 48 horas de buscas, as equipes do Corpo de Bombeiros e da Defesa Civil encontraram, na tarde desta segunda-feira (27), o corpo do trabalhador que foi soterrado por uma pilha de lixo em um aterro sanitário de Fazenda Rio Grande, na Região Metropolitana de Curitiba, por volta das 15h.

De acordo com um colega de trabalho da vítima, quando o deslizamento começou, ele correu em direção a uma área de mata. A informação ajudou os agentes nas buscas do corpo. Conforme o tenente Maurício Dubas, responsável pelo caso, “A cinemática do deslizamento empurrou a máquina pro meio, como se fosse uma linha reta de uma massa maior de lixo”, relatou.

Como o homem saiu do maquinário, os resíduos foram separados pelos agentes em setores para facilitar a operação.

“É feito todo um trabalho de análise da cena, como que aconteceu ali o deslizamento e as possibilidades de onde pode estar as vítimas e os equipamentos, maquinários. Então foi feito uma análise desde o primeiro dia, hoje com o trabalho dos engenheiros da empresa e outros profissionais que nos dão base para tomar as decisões. 

informou o tenente.

O acidente aconteceu no fim da tarde de sábado (25) e, até manhã desta segunda, a vítima identificada como João Cubis, ainda não havia sido localizado. As buscas foram interrompidas por volta das 19h de domingo (26) e retomadas nesta manhã.

O aterro recebe lixo orgânico de toda a região metropolitana de Curitiba. No sábado (25), o operador de máquina, que trabalhava com a compactação de lixo no local guiando uma retroescavadeira, foi surpreendido pelo descolamento de um talude, que acabou levando uma pilha de lixo de cerca de 50 metros de altura para cima do trabalhador.

Equipes do Corpo de Bombeiros e da Estre, empresa que administra o aterro sanitário, estão realizando escavações e buscas pelo funcionário desde sábado (25). O aterro fica localizado no acesso pela Avenida Nossa Senhora Aparecida, no bairro Santa Terezinha, em Fazenda Rio Grande. Eles tentam fazer uma espécie de “rua” para chegar até o local onde está o funcionário, trabalho arriscado por conta das muitas poças de chorume e gases que o lixo em decomposição libera.

Posicionamento da Estre

Depois do encontro do corpo do trabalhador, a empresa Estre se posicionou sobre o ocorrido. Confira a nota oficial na íntegra:

A Estre lamenta informar que o colaborador terceirizado de 42 anos, desaparecido desde a brusca ocorrência em seu aterro sanitário da Fazenda Rio Grande, foi encontrado esta tarde (27), sem vida, pelo Corpo de Bombeiros. 

A Estre recebe a notícia com imensa tristeza, dado que a equipe é um de seus patrimônios inegociáveis e base de sustentação do negócio, e estende e compartilha as suas condolências aos familiares e amigos do profissional, a quem continuará prestando a assistência necessária. O trabalhador atuava em uma obra no aterro, quando, no último sábado (25), infelizmente, ocorreu um deslizamento abrupto de resíduos secos na face oeste. 

No monitoramento geotécnico foi detectado um ponto de atenção, tendo a área do deslocamento sido isolada para obra de reforço estrutural, conduzida com o apoio de empresas contratadas, não havendo qualquer operação de aterramento de resíduos na área no momento dessa ocorrência. A equipe de operações já tinha sido deslocada para o lado oposto do aterro (face leste). 

Um laudo preliminar elaborado pela perícia externa, contendo um primeiro diagnóstico geotécnico do ocorrido, indicou como provável causa a conjunção de três fatores: (1) chuvas intensas e acima do padrão observadas em junho; (2) o acúmulo de gases pela contração e umidificação das coberturas das camadas superiores; e (3) recalque diferencial (afundamento) por aumento de peso dos resíduos devido ao fluxo de água no interior do maciço (lixiviação), potencializado no centro desse flanco. Segundo o mesmo laudo, os dispositivos de registro, medição, monitoramento, alerta e reporte sobre a estrutura do aterro estavam funcionando dentro dos parâmetros recomendados pelos órgãos competentes. O laudo também confirma a condição de segurança da face leste do aterro, no lado oposto ao sinistro, onde encontra-se a atual frente de operações. 

As medidas imediatas de contenção do impacto desse deslizamento de resíduos na face oeste do aterro estão sendo adotadas desde o último sábado. O aterro da Estre possui licença operacional vigente, expedida pelo IAT – Instituto Água e Terra, e está cumprindo todas as condicionantes previstas na licença. Aproximadamente 90% do volume do aterro é proveniente da coleta de resíduos sólidos urbanos do Consórcio CONRESOL (23 municípios da Região Metropolitana de Curitiba). 

A Estre e seus representantes estão profundamente abalados pelo ocorrido, e farão o que estiver ao seu alcance para apoiar a família da vítima, investigar eventuais responsabilidades e contribuir com as autoridades na confirmação das causas do evento e das medidas de remediação.

A Prefeitura de Fazenda Rio Grande também se posicionou, dizendo que está acompanhando as buscas e dando apoio aos familiares:

Porém, A filha do trabalhador relatou à RICtv que a família não está recebendo apoio da empresa e da Prefeitura.

“Ninguém foi dar auxílio para a minha mãe, eles estão mentindo, minha mãe está lá, prefeito da Fazenda tá mentindo, todo mundo tá mentindo. Ele trabalha sem segurança nenhuma e agora está lá meu pai, como eles falaram ontem, agora é um corpo que está lá, claro, não é a família deles”,

disse ela. Além da jovem, o trabalhador tem outros três filhos.

Matéria em atualização

27 jun 2022, às 16h03. Atualizado às 23h05.
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