Vida Familiar

por Clarice Ebert
Psicóloga (CRP08/14038) e Terapeuta Familiar

Muitos casais acreditam que o seu amor acabou depois de um certo tempo juntos. Mas, isso é um equívoco, pois o que acabou foi a paixão, não o amor. A paixão, em certa medida, precisa arrefecer, e mesmo acabar, para dar lugar ao amor. O amor terá espaço para nascer e crescer justamente quando a paixão acabar. É quando um casal desapega do outro idealizado e parte para uma conexão com o outro real.

A paixão é um sentimento que surge a partir dos referenciais internos de um outro ideal (imaginado), que se carrega dentro de si. Pode ser um sentimento arrebatador por uma pessoa, mas não perdura, por estar baseado nas imaginações que se tem a respeito da outra pessoa, que raramente se mantém na convivência.

Já o amor é uma conexão que se constrói com o outro real, esse que se desvenda na convivência, numa revelação contínua de um para o outro. Assim, pode-se dizer que o amor é soberano em relação a paixão, porque além de sentir também pensa, vê e age em favor do bem-estar conjunto de duas pessoas reais, não imaginadas.

O amor que pensa

A forma que se pensa sobre o outro na relação revela a capacidade de perceber suas qualidades e defeitos. Essa percepção influenciará o sentimento pela outra pessoa. Por exemplo, caso se pensar que o outro é uma pessoa idiota, burra e mesquinha, ficará difícil sentir admiração.

A falta de admiração pode ser um risco para o relacionamento, pois pode diminuir ou mesmo dizimar a atração. O amor que pensa, buscando conexão, não busca pensar mal do outro, mas nutre seu pensamento pelas qualidades que nele percebe. Assim pensando evolui para ser um amor que vê.

O amor que vê

Surge no amor que vê, uma capacidade de perceber o outro em sua essência. Esse amor não somente vê as suas próprias necessidades e perspectivas, mas percebe igualmente as necessidades e perspectivas da pessoa que convive ao seu lado.

O amor que vê, percebe a alegria e a tristeza, o riso e o choro, o sucesso e o fracasso, a saúde e a doença, a força e a fragilidade, a fartura e a falta. Ver e ser visto empaticamente nas diversidades da vida, gera conexão. O amor que vê não se omite, mas, age acolhendo e facilitando a caminhada conjunta.

O amor que age

Um amor que pensa bem do outro e que vê o outro em suas mais variadas perspectivas, se engrandece na ação. Sem estar alheio, isolado e ensimesmado, o amor que age, não busca no relacionamento apenas aquilo que lhe favorece ou convém, mas também se interessa no que diz respeito aos interesses da pessoa com quem convive.

Assim sendo, acolhe e empatiza, aplaude e incentiva, respeita e valida, dialoga numa escuta ativa e numa fala assertiva, seja em assuntos fáceis ou inevitavelmente difíceis. Um amor que age busca se revelar, ao mesmo tempo em que se mostra atento as revelações da outra pessoa.

Um amor que age sabe que somente saberá do outro desvestindo-se da arrogância. Com mais humildade é possível ouvir com mais atenção ao que o outro tem a dizer, não apenas ao que se pensa que o outro esteja dizendo, seja sobre suas satisfações ou incômodos.

O amor que age tem a capacidade de captar as solicitações do outro e busca dar atenção a elas, seja na forma de falar ou de guardar a toalha após o banho ou de gastar o dinheiro ou de cuidar das crianças, dentre outros assuntos. Um amor que age, facilita a superação dos desafios, tanto os individuais como os da relação e, assim, evolui para um sentimento sublime de conexão.

O amor que sente

Matew Kelly [1] nos ensina que o amor ação vem antes do amor sentimento. Portanto, o amor que sente é consequência do amor que pensa, vê e age, e não o inverso. Um amor que sente, antes pensou, viu e agiu com intencionalidades de bem querer para com a outra pessoa.

Não basta desejar o amor sentimento, é necessário fazer algo para que ele venha a existir quando o sentimento da paixão vai embora. É aqui que muitos se enganam, pois acham que o sentimento da paixão é o mesmo que o sentimento do amor.

A paixão pode ser necessária para dar o início da vida conjunta, pois está repleta de atração que impulsiona o querer estar junto. Mas, será o amor que promoverá a ligação e a permanência. O amor é um encontro de almas, que traz o aconchego do encontro dos corpos e das pupilas. A paixão é cheia de interesses e temporária. Já o amor é doação, que se transforma em um amor que pensa, vê, age e sente uma conexão sublime.

Não se preocupe tanto em perder o sentimento da paixão, e se ocupe mais em ser proativo no amor que pensa, vê e age facilitando o encontro com a outra pessoa, pois este gerará o inigualável sentimento do amor.

[1] KELLY, Matthew. Os Sete Níveis da Intimidade: a arte de amar e a alegria de ser amado. Rio de Janeiro: Sextante, 2007.

15 nov 2022, às 12h22. Atualizado às 13h39.

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