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por Jeulliano Pedroso

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Umas das características mais marcantes das Eleições 2022 é o grande volume de recursos públicos utilizados pelos candidatos. Para se ter ideia, já foram gastos mais de R$ 220 milhões apenas no Paraná. No Brasil, esse montante passa de R$ 4 bilhões.

Ao me deparar com números tão impressionantes, surgiu uma dúvida: será que os valores gastos na campanha são maiores ou menores do que o patrimônio pessoal dos candidatos? Afinal, alguns deles declararam insuficiência de valores recebidos e como suas campanhas seriam “franciscanas”. Será que tais candidatos achariam ainda baixos os valores se fossem eles mesmos os responsáveis por financiar suas campanhas?

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Para responder essa questão, consultei as informações oficiais da Justiça Eleitoral, confrontando os recursos recebidos até o momento pelos candidatos ao Senado e ao Governo do Paraná e as respectivas declarações de bens entregues por eles. Antes de passarmos para a lista propriamente dita, saliento uma peculiaridade: as declarações de bens parecem subestimadas, inclusive um tanto incompatíveis com o estilo de vida que alguns desses candidatos exibem por aí.

Na tabela abaixo listo os candidatos cujo valor declarado de bens é menor do que o  valor arrecadado até agora para a campanha. Aparecem primeiro aqueles que têm uma proporção maior de gastos em relação ao patrimônio:

CandidatoCargoValor de bens declaradosValor arrecadado para campanhaProporção
GomydeGovernoR$ 88.376,27R$ 3.527.500,0039,91
Paulo MartinsSenadoR$ 302.990,00R$ 3.121.846,0010,30
DesireeSenadoR$ 205.577,87R$ 1.536.881,007,48
RequiãoGovernoR$ 896.926,82R$ 4.055.176,654,52
Solange BuenoGovernoR$ 82.000,00R$ 300.000,003,66
Sergio MoroSenadoR$ 1.589.369,94R$ 4.507.611,262,84
Alvaro DiasSenadoR$ 2.220.952,16R$ 5.081.444,002,29
Aline SleutjesSenadoR$ 457.425,11R$ 673.199,131,47

Imaginava encontrar algumas discrepâncias, mas confesso que fiquei assustado ao me deparar com um candidato ao Governo do Paraná que deve gastar na campanha quase 40 vezes o valor de seu patrimônio declarado e o candidato ao Senado que irá gastar 10 vezes o valor dos bens que declarou. 

Mesmo tratando-se de dados diferentes, um recurso é o patrimônio pessoal e os outros são para fazer campanha. A curiosidade e o assombro surgem porque os candidatos aqui listados vão gastar em 46 dias mais do que conseguiram acumular no decorrer da vida. Mesmo que algum deles já tenha transferido algo para cônjuges e herdeiros e que os valores declarados estejam subdimensionados, os números são impressionantes. Vale salientar que tive dificuldade em identificar doações destes mesmos candidatos para suas campanhas e me parece que o ânimo de gastar com propaganda só acontece quando o dinheiro é do pagador de impostos.

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Fica a lição: esse modelo de financiamento de campanhas tem que acabar. Além destes fundos criarem situações distorcidas como as que apontei, o ato de utilizar bilhões de recursos públicos num país que ainda tem tantas carências é vergonhoso e imoral.

Sobre o colunista

Jeulliano Pedroso é sociólogo, formado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Especialista em ciência política pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ) e mestrando em Antropologia Social também pela UFPR. Atualmente é Analista-chefe na Brasil Sul Inteligência.

30 set 2022, às 06h00. Atualizado em: 2 out 2022 às 08h16.
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