Explica Aí!

por Jeulliano Pedroso

O período de registro das candidaturas terminou na segunda-feira (15). Podemos observar, agora, vereadores lançando candidaturas para deputado federal ou estadual — fenômeno que já ocorreu em outras eleições. Alguns deles com aparente chance de êxito, outros com chances bem reduzidas de trocar o legislativo municipal por uma representação mais ampla.

Quais seriam os elementos que motivam os mandatários a enfrentar uma nova eleição 20 meses depois de tomar posse na Câmara Municipal? Conversando com alguns destes parlamentares, obtive os seguintes motivos:

  • Vontade concreta de assumir uma cadeira de maior representatividade: teria utilizado o mandato de vereador e sua estrutura como um trampolim para um cargo que já ambicionava;
  • Exigência do partido: por conta da cláusula de desempenho os partidos precisam ampliar suas votações para conseguir manter seu pleno funcionamento e, principalmente, assegurar o acesso ao fundo partidário;
  • Alianças políticas: necessidade de potencializar o apoio político a uma outra candidatura, as famosas dobradas. Em outras palavras, o vereador sairia candidato a um cargo para ajudar outro político que se candidatou a um cargo de esfera diferente, se o político que receberá apoio sair candidato a deputado federal o  vereador se candidataria a deputado estadual ou vice versa;
  • Potencializar as chances de reeleição no próximo pleito municipal: o vereador ou vereadora aproveitaria a oportunidade de concorrer no pleito estadual para manter seu nome em evidência, ampliando suas chances de reeleição à vereança.

Os três primeiros pontos são bastante particulares e, consequentemente, difíceis de serem analisados de forma mais ampla, porém o último ponto nos possibilita uma análise pregressa para verificar se realmente os vereadores que se candidatam a deputados tem uma taxa maior (ou não) de reeleição do que aqueles que não se candidatam.

Vamos lançar primeiro um olhar para o Brasil (através das capitais dos estados) e depois para Curitiba em particular.

Com base nos dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a taxa de vereadores de capitais eleitos em 2016 que disputaram e não venceram as eleições para o cargo de deputado em 2018 e buscaram a reeleição para o legislativo municipal em 2020 foi de 55,1%. Já a taxa de reeleição dos vereadores de capitais que não disputaram o cargo para deputado em 2018 foi de 56,9%. Os dados indicam uma leve vantagem para aqueles que não concorreram, mas, convenhamos, não é uma diferença percentual tão grande.

Ser eleito, ou não, tem correlação com vagas obtidas pela coligação entre outros fatores. Resolvi testar, então, uma hipótese: se os vereadores (de capitais) que disputaram eleições para deputados tiveram médias maiores de votação do que aqueles que não concorreram. O gráfico a seguir nos mostra que não, pelo contrário. Os vereadores que não disputaram as eleições de deputado, tiveram uma média quase 30% maior do que aqueles que se candidataram no meio do mandato.

Gráfico 1 – Média de votos em 2020 dos vereadores eleitos em 2016 

Podemos perceber pelos dados, neste cenário, que ser candidato a deputado não significa automaticamente um crescimento de votação na eleição subsequente de vereador — pelo menos não quando olhamos os dados nacionais. E se olharmos para nossa capital? Afinal as diferenças regionais são relevantes quando pensamos o comportamento dos eleitores.

Em Curitiba, diferente do cenário nacional, a taxa de reeleição foi maior entre os que concorreram a deputado na metade do mandato de vereador, como podemos ver no gráfico abaixo.

Gráfico 2 – Taxa de reeleição dos vereadores de Curitiba X Capitais do Brasil

A diferença é de 12,1%, bastante relevante. Portanto, respondendo a pergunta inicial, aparentemente no caso das capitais brasileiras não é uma grande vantagem concorrer a deputado como estratégia de potencializar uma eventual reeleição. Porém, se olharmos para Curitiba, essa estratégia trouxe algum êxito no período analisado. Vamos acompanhar e observar se esse fenômeno se repetirá em 2024.

Sobre o colunista

Jeulliano Pedroso é sociólogo, formado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Especialista em ciência política pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ) e mestrando em Antropologia Social também pela UFPR. Atualmente é Analista-chefe na Brasil Sul Inteligência.

17 ago 2022, às 22h02. Atualizado às 22h04.

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