Por Marcela Ayres

BRASÍLIA (Reuters) – O ministro da Economia, Paulo Guedes, voltou a mencionar nesta quarta-feira (15) a possibilidade de criação de um fundo para distribuir recursos aos mais pobres, assim como um fundo para antecipar o pagamento de precatórios que não fossem quitados de imediato pelo governo no âmbito das soluções aventadas para o problema dos precatórios.

Ao participar do evento online Encontro do Movimento Pessoas à Frente, Guedes defendeu a instituição de um limite para o pagamento de precatórios, seguindo a regra do teto de gastos. Os valores excedentes poderiam ser parcelados ou entrariam numa “fila temporal”, mas com a “possibilidade de saída”.

Isso aconteceria via acerto de contas, no caso de Estados e municípios. Com o setor privado, Guedes defendeu a utilização da “moeda de privatização” – os recursos levantados com venda de ativos do governo seriam usados para antecipar o pagamento dos precatórios.

“Então nós íamos colocar um fundo de erradicação de pobreza de um lado e um fundo de resgate de precatório de outro lado”, disse ele. “Na verdade tudo isso pode ser usado, são ferramentas que estão disponíveis.”

“Esse fundo pode acelerar o pagamento de precatórios e pode, ao mesmo tempo, acelerar o resgate da dívida social”, acrescentou.

Em sua Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para os precatórios, o governo previu a criação de um fundo alimentado com privatizações, mas cujos recursos seriam direcionados apenas para o pagamento da dívida pública e dos precatórios que seriam parcelados – o texto não especificou em qual percentual se daria essa destinação.

Isso aconteceu após o Ministério da Economia ter finalizado uma versão preliminar da PEC que previa que os recursos do fundo iriam para o pagamento da dívida pública (60%), transferência para os mais pobres (20%) e antecipação de pagamentos de precatórios parcelados (20%). A totalidade dessas despesas, pelo esboço do texto, ficaria fora do teto de gastos.

Os ruídos acerca da inclusão no fundo de despesas variadas – e com viés eleitoreiro – levantaram temores no mercado sobre a perda de compromisso com a sustentabilidade fiscal, diante da intenção manifesta do presidente Jair Bolsonaro de vitaminar o Bolsa Família.

Nesta quarta-feira, Guedes defendeu que o governo deve um Bolsa Família mais robusto para a população brasileira, mas disse que a expansão do programa fica inviável com a conta de 90 bilhões de reais em precatórios para o ano de 2022.

Os precatórios – derrotas em definitivo sofridas pela União na Justiça – têm caráter obrigatório. Com o Orçamento público sujeito à regra do teto, o crescimento dessas despesas acaba comprimindo o espaço disponível para outras destinações, como o aumento do Bolsa Família.

O ministro da Economia afirmou ser necessário haver compreensão e ajuda para o governo resolver o problema dos precatórios, expressando confiança de que isso será feito em conjunto com o Legislativo e Judiciário.

Guedes frisou ser importante que os Poderes tenham conversas regulares, principalmente quando a tomada de decisão de um impacta o outro, como no caso dos precatórios.

“Se o Executivo tem limitação de gastos, é inconsistente juridicamente que outro Poder o obrigue a romper a lei”, afirmou.

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15 set 2021, às 12h05. Atualizado às 12h47.
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