Por Lisandra Paraguassu

BRASÍLIA (Reuters) – Ao reunir cerca de 15 senadores de centro para um jantar na noite de segunda-feira (12), em Brasília, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ouviu garantias de apoio nas próximas eleições, mas também pedidos para que deixe de lado temas polêmicos e se concentre na economia e na democracia.

O encontro foi organizado pelo emedebista Eunício de Oliveira, ex-presidente do Senado, que já explicitou seu apoio a Lula, mesmo com o partido tendo lançado a senadora Simone Tebet como pré-candidata. Mas o jantar reuniu não apenas nomes do MDB que querem ver o partido aliado de Lula, como também senadores do PSD, como Omar Aziz, e até do PDT, como Acir Gurgacz, que em tese teria Ciro Gomes como candidato.

Em meio a senadores que se dizem de centro, Lula ouviu de alguns pedido para que se concentre em temas como fome, economia e a defesa da democracia, e deixe de lado temas mais polêmicos.

A defesa do aborto como questão de saúde pública, feita pelo ex-presidente na semana passada, foi um dos assuntos levantados, mas não o único.

“São questões menores nesse momento e que criam um desgaste desnecessário”, disse um senador presente ao jantar. “Quem defende já ia votar, mas o evangélico pode deixar de votar se isso for usado contra ele. O país não está preparado para discutir certas coisas.”

Um outro senador presente disse a Lula entender a necessidade de o presidente falar para sua base de apoio, mas pediu que Lula voltasse a falar para um público mais amplo. Até agora, o ex-presidente tem feito, normalmente, atos com grupos e movimentos sociais mais ligados à esquerda, como MST, MTST, e defendido pautas mais ligadas a minorias.

De acordo com uma outra fonte presente, Lula respondeu que entendia a preocupação, mas avaliou que algumas questões precisam ser enfrentadas e não se pode fugir deles porque se está em campanha.

Em suas falas, Lula repetiu o que vem dizendo publicamente: não quer ser um candidato só do PT e precisa de uma frente ampla -daí seu acordo com o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, ex-tucano, mas hoje no PSB. E disse que está disposto a fazer campanhas para todos os candidatos que estiverem com o PT nessa eleição.

Uma das fontes ouvidas pela Reuters garantiu que, durante o jantar, não se tratou explicitamente de acordos políticos. No entanto, a intenção de alguns caciques do MDB de desistir da candidatura de Simon Tebet ficou clara. Um dos defensores dessa ideia, o senador Renan Calheiros defendeu o apoio a Lula e avaliou que seu partido irá terminar por avaliar que o apoio é importante contra o presidente Jair Bolsonaro.

À Reuters, Renan afirmou que não existe um movimento contra Simone, mas que, se a senadora não mostrar musculatura para crescer na campanha, o caminho natural do partido deveria ser o apoio a Lula.

“O MDB tem governos estaduais, tem prefeituras, tem uma bancada, tem algo a perder”, declarou. “Não podemos de novo cometer o erro de ter um candidato com 1% nas pesquisas.”

Em 2018, o candidato emedebista Henrique Meirelles, ex-ministro da Fazenda, teve 1,2% dos votos válidos e terminou em 7º lugar. Vários caciques do partido atribuem a isso a diminuição do partido no Congresso, quando saiu de 66 deputados em 2014 para apenas 34 em 2018 –hoje tem 39–, e de 19 para 12 senadores.

Eduardo Braga (MDB-AM), que não esteve no jantar, mas foi conversar com Lula em seu hotel na tarde desta terça, diz que o partido não irá “queimar” Simone Tebet, mas que o partido tem até o dia 18 de maio para decidir o que fazer. Esta é a data acertada por MDB, União Brasil, PSDB e Cidadania para tentar definir um candidato único da chamada terceira via.

“Aí o partido tem que decidir: ou vai com uma candidatura ou libera”, disse Braga.

12 abr 2022, às 19h27. Atualizado às 20h18.
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