Parecia chanchada da época gloriosa de Oscarito e Grande Otelo nos velhos tempos da Atlântida. Ladrão e lavador de dinheiro julgado e condenado por nove magistrados, juiz, desembargadores e ministros, o ex-presidente Lula tinha um interrogatório marcado com o juiz federal Vallisney de Souza Oliveira, no âmbito da Operação Zelotes, em 11 de fevereiro último.Pediu para faltar ao compromisso, pois o papa Francisco o receberia no Vaticano no dia 13.

Poderia ter viajado no dia 12 à noite, pois não faltam aviões de carreira para Roma nem empresários milionários dispostos a pagar velhos favores, ou conquistar futuros prováveis, dispostos a embarcá-lo num jatinho particular para recolhê-lo em Brasília e deixá-lo no aeroporto mais próximo da Praça de São Pedro.

Difícil mesmo era o bispo de Roma justificar o compromisso, marcado pelo amigo do amigo, condição lembrada pela empreiteira corrupteira Odebrecht para adotar como codinome do ilustríssimo advogadinho do PT alçado pelo mesmo Lula ao pináculo do Judiciário, Dias Toffoli.

Em território brasileiro, dizem, vive a maior população católica cá da Terra. E a maioria dos brasileiros maiores de idade e aptos a votar elegeu presidente um obscuro parlamentar da direita, o capitão reformado Jair Bolsonaro, pelo simples fato de representar a esperança da população de afastar os gatunos travestidos de socialistas (et pour cause) por todos os séculos, amém, das chaves dos cofres do erário, preenchidos pela suada poupança de todos.

O pontífice argentino e esquerdista, já havia resistido à tentação de vir ao Brasil para prestigiar a festa de uma negrinha, Nossa Senhora Aparecida, porque as instituições republicanas, constatados o crime e o pecado contra o oitavo mandamento (“não furtarás”) presente nas tábuas da lei, haviam decretado a aposentadoria perene e o ostracismo eterno ao Ali Babá de Caetés.

Mas o sumo pontífice recebeu e se permitiu fotografar pelo retratista oficial do líder da esquerda estelar pousando a caridosa mão habituada a empunhar o cajado simbólico de pastor do pescador Pedro sobre a fronte do condenado que nunca se arrependeu de seus crimes. E, depois, ainda manifestou sua satisfação por ter propiciado um périplo do gatuno pelas ruas da Cidade Eterna, num ato falho em que omitiu o fato de que seu dileto filho pródigo não frequenta aviões de carreira nem vias públicas, no lado de lá do Atlântico, para evitar insultos dos cidadãos que roubou.

De volta da Europa, o líder sindical que vendia greves e dirigente político que fazia favores remunerados a empreiteiros corruptores por América e África deu-se ao luxo de conduzir seus companheiros de rapina e fortuna a salões de hotéis de alto luxo para combinar a volta ao comando dos cofres públicos nas próximas cruzadas de engana-povo.

Trata-se de um caso espantoso, mas jamais singular. O socialista paraibano Ricardo Coutinho, protagonista de vídeos exibidos nos noticiários da televisão cobrando propinas de um lobista da Cruz Vermelha gaúcha, passou pela capital federal na mesma semana da visita do petista para ser ouvido pela direção de seu partido, o PSB de Miguel Arraes e Eduardo Campos, sobre os passos a dar para enganar os incautos nas eleições municipais deste ano e na presidencial e estadual de 2022.

Acusado de ter amealhado fortuna pessoal de R$ 130 milhões (o que significa que tungou dos cofres de um dos Estados mais pobres do Brasil, a Paraíba, pelo menos R$ 1,3 trilhão), sua insolência insolentíssima recebeu a grata (para ele) notícia de que continuará gozando de liberdade para conduzir os destinos da Orcrim Ricardo Coutinho com o mesmo pulso de ferro com que liderava o Coletivo Ricardo Coutinho, à época em que começou carreira política sob a sigla do PT do mesmo Lula.

A 6.ª Turma do Superior Tribunal de Justiça manteve a decisão de soltura de que gozava com a condição de cumprir restrições que somente um néscio total acredita que serão fiscalizadas a contento pelas autoridades responsáveis.

Enquanto a esquerda comemorava em silêncio o patético desfile dos zumbis políticos Silva e Coutinho, a direita se refestelava em gargalhadas ao ouvir o inédito insulto desferido pelo inimigo de ambos, futuro adversário na eleição presidencial de 2022, Jair Bolsonaro, à repórter da Folha de S.Paulo Patrícia Campos Mello. Nunca o calão foi tão baixo no alto poder concedido ao ex-oficial pelo voto popular milionário.

A jornalista publicou uma reportagem implausível atribuindo a vitória eleitoral do presidente a disparos de WhatsApps nunca comprovados. Mas, talvez por ser usuário frequente da postura de acusar sem ter prova da acusação, Sua Insolência jogou a excelência do comportamento na vala comum e apelou para a ignorância (aliás, nunca uma expressão foi usada de forma tão precisa quanto esta).

O pai do senador Flávio Bolsonaro, que distribuiu no Twitter vídeo apócrifo de um cadáver identificado não por suas notórias feições, mas por um esparadrapo nas costas com as inscrições Adriano Magalhães, fez a versão sangrenta do mesmo espírito que comandou a piada do pai, consagrando uma das práticas mais empregadas no buliçoso clã presidencial – a cafajestice.

A maioria dos brasileiros deplora as atitudes de cafajestes e não as pratica, mas convive pacificamente sob o comando de gente como Lula, Coutinho, Jair e Flávio, que usam o baixo calão no bélico discurso político como se isso representasse um diferencial para o alto da glória, nunca para baixo da linha da cintura.

21 fev 2020, às 00h00. Atualizado em: 5 jun 2020 às 10h21.
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