BRASÍLIA (Reuters) – O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou, nesta quinta-feira (14), que a vacina contra a Covid-19 ainda é uma interrogação e disse que discutir a imunização “virou crime”, apontando que quando ele questiona os imunizantes, logo é chamado de negacionista. As declarações foram feitas em entrevista para a Rádio Novas de Paz, de Pernambuco.

“Quando você começa a discutir vacina, virou mais do que um tabu, virou crime. Vem logo o pessoal te acusando de negacionista, terraplanista, um montão de coisas”, disse.

“Agora a vacina ainda é uma interrogação”, emendou.

Para sustentar a sua tese contra a eficácia da imunização, Bolsonaro disse que o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, tomou duas doses da vacina e sempre usa máscara, mas mesmo assim foi contaminado por Covid-19 na viagem que fez aos Estados Unidos.

Queiroga integrou a comitiva que acompanhou o presidente em eventos, entre eles na abertura da Assembleia-Geral das Nações Unidas, e teve um quadro leve da doença. Especialistas apontam que as vacinas não garantem que uma pessoa vacinada não será infectada, mas reduzem significativamente a probabilidade de apresentarem um quadro grave da doença e de morrerem por causa dela.

O presidente afirmou que não tomou a vacina e não foi contaminado. Ele questionou o fato de pessoas terem ido aos EUA e contraíram a doença e ele não, insinuando que haveria um lobby da indústria farmacêutica para vender vacinas ao país.

Dados e estudos do próprio governo e de instituições de pesquisa governamentais, como a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) comprovam que a redução do número de infectados e óbitos por Covid se deu principalmente com a ampliação da vacinação no Brasil.

Em sua argumentação, Bolsonaro disse que nem metade da população do Japão se vacinou contra Covid. Contudo, cerca de 66% da população japonesa já foi completamente vacinada, conforme dados da Our World in Data.

Já o ministro da Economia, Paulo Guedes, em viagem esta semana aos Estados Unidos e numa outra linha em relação a Bolsonaro, afirmou que a prioridade e maior preocupação é com a vacina. “É a prioridade número um”, disse o ministro.

Bolsonaro voltou a defender, na entrevista desta quinta, o uso de medicamentos ineficazes contra Covid-19. Ele disse que nos próximos dias terá uma “notícia bomba” em relação ao uso da hidroxicloroquina e ivermectina, dizendo que milhares de pessoas poderiam ter sido salvas com o uso dessas medicações para o que chama de tratamento precoce.

Contudo, publicações renomadas nacionais e internacionais já descartaram a eficácia desses medicamentos contra o coronavírus. Além disso, alguns desses remédios podem ter efeitos colaterais em determinados pacientes.

(Reportagem de Ricardo Brito)

14 out 2021, às 12h27. Atualizado às 13h23.
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