por Redação RIC.com.br
com informações de Daniela Sevieri, da RIC Record TV

Luana Oliveira de Melo, de 29 anos, namorada de Ana Paula Campestrini, de 39 anos, executada na manhã de quarta-feira (23), em Curitiba, conversou com a RIC Record TV nesta quarta-feira (24) e falou sobre a suspeita de que o crime tenha sido encomendado pelo ex-marido da vítima, o advogado Wagner Cardeal Oganauskas.

“Ele se achava dono da verdade. Mas chegar ao ponto de mandar matar a mãe dos filhos dele, nunca acreditei. Eu não sei o que pode ter passado na cabeça dele para fazer isso com os filhos. Eu queria muito saber. Ele se alegava uma pessoa religiosa. As redes sociais dele são cheias de postagens de religião”, desabafou a jovem. 

Ela ainda completou ressaltando que não acredita na possibilidade de outro mandante para o crime, mas lembrou que é preciso respeitar os filhos do casal.

“Não existe outra pessoa [suspeito]. A Ana não tinha problemas com ninguém. Para mim foi ele. Eu quero só pedir para as pessoas lembrarem que ela tinha três filhos e que eles estão sofrendo muito. Eles perderam a mãe e agora essa notícia de que pode ter sido o pai, deve ser chocante. Eu não faço ideia de como eles possam estar. Eu não tinha contato com eles, infelizmente, mas eu preciso fazer esse apelo porque eles eram a vida da Ana e ela não iria querer que eles sofressem com as críticas. Eu só peço que tenham empatia com as crianças”, disse Luana. 

Casamento e separação

Durante a conversa, Luana contou que Ana Paula e Wagner foram casados por cerca de 17 anos e juntos eles tiveram três filhos: uma menina, de 17 anos, e dois meninos, de 11 e 9 anos. Ao longo dos anos, ela se dedicou exclusivamente à família e apesar de não trabalhar fora, passava os dias em função do bem-estar de todos. Até que em 2018, Ana Paula se descobriu homossexual e resolveu colocar um fim na união.

Conforme o relato, apesar das tentativas de acabar a relação de forma saudável, o advogado não aceitou bem a situação, os dois passaram a brigar e os desentendimentos culminaram com a saída de Ana Paula da casa da família, localizada em um condomínio de luxo, em setembro do mesmo ano. 

Na ocasião, Ana Paula levou apenas suas roupas, seu carro, foi morar de favor na casa de uma amiga e deixou os filhos com o pai. “Quando ela saiu de casa, ela não quis tirar eles de lá porque ela não tinha para onde ir. Ela ia para a casa de uma amiga, morar de favor. Então, ela não quis tirar eles do lar e levar eles para uma situação em que eles não teriam segurança, eles estavam estudando, eles tinham o quartinho deles, a caminha deles. Ela não queria tirar eles do conforto deles porque, querendo ou não, o pai sempre teve um poder aquisitivo maior. Ela deixou as crianças lá porque ela sabia que ele zelaria pelas crianças”, disse 

De acordo com Luana, as duas se conheceram em fevereiro de 2019 e Ana Paula lutava para ter uma boa relação com o ex-marido. A princípio, Ana Paula abriu mão dos bens aos quais teria direito e pediu apenas que a guarda das crianças fosse compartilhada. Para sobreviver, se tornou motorista de aplicativo de corrida e também fazia faxinas por diárias na casa de conhecidos. Apenas com o passar do tempo, depois de ouvir muitos conselhos de amigos e familiares, foi que ela resolveu entrar com um processo de divisão de bens, de cerca de R$ 2 milhões, na Justiça.

“Ela falava: ‘Wagner, eu quero terminar tudo isso da melhor maneira possível. Eu quero terminar isso de uma forma amigável. Nós temos filhos. A gente vai ter uma relação para o resto da vida’. No começo, ela queria abrir mão até dos bens. Ela falava: ‘Eu só quero meus filhos. Eu vou viver a minha vida. Eu vou ser feliz. Eu não quero tudo isso. Ela só começou a ir atrás dos bens por insistência de amigos e da família”, declarou Luana. 

Alienação parental

Luana conta que no início, Wagner permitia que os dois filhos mais novos fossem até a casa da mãe. Mas quando ele descobriu que a namorada de sua ex-mulher estava presente em algumas visitas, o comportamento dos meninos começou a mudar e logo eles pediam que a mãe estivesse sozinha. Segundo a jovem, o advogado nunca proibiu que Ana Paula visse os filhos, mas dificultava as visitas como podia. A situação piorou com a chegada da pandemia, quando ele passou a não atender o telefone e impedia sua entrada no condomínio.

“Ele falava assim: ‘Você não vai ver as crianças’. Ele dificultava o máximo que podia. […] Quando entrou na pandemia, pirou tudo de vez, porque antes eles iam na escola. Então, ela podia ir na escola ver eles. Depois ela ia no condomínio e lá ele não deixava ela entrar, não atendia o telefone ou mandava as crianças dizerem que estavam estudando. Não importava o horário, ia meio-dia, 2h, 4h, 5h, às crianças sempre estavam estudando”, contou a namorada da vítima. 

Cansada da situação e vendo que seus filhos estavam cada vez mais distantes, Ana Paula entrou com um processo de alienação parental contra o ex-marido. Assim, no final de 2020, o juiz responsável pelo processo estabeleceu que a mãe e os três filhos fizessem terapia juntos. Com as sessões, ela passou a vê-los semanalmente e o relacionamento entre eles melhorou, mas logo as consultas foram encerradas porque as crianças tiveram suspeita de Covid-19 e, na sequência, a profissional de saúde entrou em recesso. 

Entre o fim de 2020 e o início de 2021, foi designado pela Justiça que Wagner penhorasse seus carros para pagar a pensão de Ana Paula, o que para Luana, foi mais um motivo usado pelo advogado para jogar os filhos contra a mãe

“Os juiz decidiu que os carros dele deveriam ser penhorados porque ele deveria pagar uma pensão para a Ana e ele não pagava e foi acumulando. Então o juiz disse, já que você não paga, vamos vender os carros para pagar para ela. Mas quando voltaram às sessões, as crianças não queriam mais fazer com ela porque conforme foi passado para a terapeuta: ‘A Ana queria tirar o carro do pai deles, ele só mentia, ela estava manipulando as crianças”, disse Luana. 

Prisão dos suspeitos

Wagner Cardeal Oganauskas, e Marcos Antônio Ramon foram presos, na manhã desta quinta-feira (24), por suspeita de serem o mandante e executor do crime respectivamente. Os dois era amigos e trabalhavam juntos no clube Sociedade Morgenau, onde o advogado era o atual presidente.

A Polícia Civil chegou até os dois depois de seguir os últimos passos de Ana Paula e descobrirem que pouco antes de ser executada, ela foi até a sociedade para fazer uma carteirinha de sócia. A intenção era poder entrar no clube e ver o filhos, já que, até então, só podia ficar acenando para eles da calçada.

A delegada responsável pelas investigações, Tathiana Guzella, contou que Ana Paula deixou o local e foi direto para casa. Testemunhas afirmaram que viram Marcos Antônio, que é diretor financeiro do clube, subindo em uma moto sem placas, logo após a saída da vítima. 

A apuração aponta que ele seguiu a ex-mulher do amigo e efetuou 14 disparos contra Ana Paula, enquanto ela aguardava a abertura do portão do condomínio em que vivia com Luana.

“O autor dos disparos perseguiu a vítima, o veículo da vítima, quando a vítima saiu da sociedade Morguenal, que era o clube onde os três filhos da vítima frequentavam e faziam esportes. Ela teria conseguido pela manhã, na data de sua morte, a sua carteirinha de acesso ao clube”,

disse a delegada.

A Polícia Civil ainda afirma que a moto estava escondida no clube há dias, mas que após o crime o veículo não foi mais localizado.

Outro ponto que será averiguado é por que, conforme a polícia, as câmeras de segurança da Sociedade Morgenau estavam sem funcionar nos últimos dias, ferramenta que estava à disposição de Wagner.

24 jun 2021, às 18h36. Atualizado às 19h11.
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