Viajo para ver a surpresa do trivial.

Como anoitece tarde no verão em Paris e o pôr do sol é colorido em Montevideo, e o mar gelado em Sydney.

No Vietnã, o café da manhã é igual ao almoço.

Por que esperar uma hora exata pra comer o que a gente gosta? Essa sabedoria não mora no ocidente. Em Hanói, arroz e sopa acontecem logo cedo, e de novo no almoço, e depois no jantar. Até o café pode ser gelado, e a cerveja quente. Antes de fazer cara feia, experimenta. E depois me conta.

Nosso gosto muda viajando. A gente fica mais tolerante com as próprias exigências. Sou facilmente agradável na estrada, quase tudo me faz rir.

Viajar é desconstruir a ideia de normalidade.

O comum é o excêntrico, e vice-versa. Só é intolerável a intolerância. O resto é questão de coração aberto.

Viajando, aprendo novas formas de usar a rua, segurar os talheres, agradecer sem falar nada. Um jeito inédito de contar um causo, e até mudar de nome. Fora do Brasil, sou Letishia, com um T quase mudo e o sh com som de x. Às vezes, quando complica, simplifico. Viro Letty.

Ao falar de mim, já inventei coisas. Me permiti pequenas mentiras por alguns instantes… não citei os traumas, o passado. Fui só viajante.

Guardei as boas velhas histórias para assumir uma identidade nenhuma. Longe de casa, numa conversa de bar, pouco importa a profissão, o que você faz… eu quero é saber se você tá feliz.

“Pra onde você tá indo? Quando for ao Brasil me avisa. Já tem casa para ficar lá em Floripa”.

Viagem boa tem troca. Mesmo que invisível, mesmo que em silêncio.

Quem viaja vê, e é visto. Será? Há destinos em que a graça está em se sentir estrangeiro, e em outros ser só mais um na multidão.

Na minha lista tem qualquer lugar em que eu seja bem-vinda e possa ser boa visita.

Viajo também para ser a surpresa, com minhas roupas coloridas, cabelo armado, olho delineado e tatuagens. A brasileira de olho meio puxado e sobrenome alemão. Olhar admirada e ser também fonte de espanto.

É sério que o mundo é o lar de toda essa gente, tão igual e ao mesmo tempo tão diferente? É. É sim.

Viajo para me emocionar, porque acho bem incrível sermos todos da mesma espécie.

A vida é mesmo uma baita viagem.

Letícia Mueller é jornalista, mora atualmente na Austrália e escreve sobre suas experiências em viagens ao redor do mundo. Siga a Letícia no Instagram: @leticia_mueller

12 nov 2021, às 17h56. Atualizado às 18h18.

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