Uso das redes sociais pelos atletas preocupa clubes brasileiros e motiva cartilha

O acesso às redes sociais por atletas é mais uma preocupação dos clubes. No futebol, por exemplo, o São Paulo promoveu recentemente palestra sobre o comportamento de seus jogadores na internet. Na Ponte Preta, o atacante Dadá foi multado e suspenso por uma semana por ter xingado um torcedor em uma “live” (transmissão ao vivo) em seu Instagram durante almoço entre elenco e comissão técnica.

A maioria dos clubes prepara uma cartilha para seus jogadores sobre a conduta nas redes sociais – empresas nacionais e internacionais já adotam esse expediente com seus funcionários. Além disso, o departamento de comunicação é responsável por verificar se algum novo contratado tem perfil oficial, analisar postagens antigas e avisar tudo isso para a imprensa.

Atletas mais consagrados contam com o chamado “estafe”, responsável por orientá-los e por administrar suas redes. A desculpa de que foi um “primo que fez a postagem” em caso de polêmica não cola mais.

Para o advogado especialista em direito eletrônico Renato Opice Blum, que fez a palestra para os jogadores do São Paulo, o caso envolvendo Neymar e a modelo Najila Trindade chamou a atenção dos atletas sobre como agir nas redes. O atacante da seleção e do PSG é alvo de investigação por crime virtual por ter divulgado imagens íntimas da modelo, que o acusou de estupro. O caso repercutiu no mundo inteiro.

Blum, que dá dicas aos atletas sobre como evitar polêmicas, contou como foi a reação dos são-paulinos durante a palestra. “Fiquei muito contente, porque os jogadores participaram demais. Havia muitas dúvidas. Expliquei que jogadores, técnicos e dirigentes são formadores de opinião, então precisam ter cuidado com o que escrevem e postam. Me pediram para fazer uma outra conversa detalhando a segurança da informação, saindo do conteúdo para os ataques de possíveis hackers”, afirmou ao Estado o advogado, que já deu palestras para profissionais das escolinhas da NBA e no Clube Monte Líbano.

A palestra contou com a participação da psicóloga do clube, Anahy Couto. Na visão de Blum, “um time ideal para cuidar das redes sociais precisa ter um profissional de comunicação, um especializado em mídias sociais, um psicólogo e até um representante do jurídico”.

René Simões, ex-técnico que trabalhou durante três anos como coach de treinadores em atividade – fez parcerias com Fábio Carille, do Corinthians, e Zé Ricardo, do Fortaleza, entre outros -, contou os conselhos que dava a seus clientes, que se preocupam com o que os jogadores postam nas redes sociais.

“Falava para não tentarem fazer os jogadores abrirem mão do celular. É preciso orientá-los de que são pessoas públicas e devem satisfação a quem os paga, que são os clubes, e na ponta disso estão os torcedores. É preciso ter cuidado com quem você se relaciona nas redes sociais, porque isso traça o seu perfil e as empresas e clubes olham para isso o tempo todo”, avaliou René.

Outra coach esportiva ouvida pelo Estado, Amanda Ciaramicoli alertou para os malefícios que as redes sociais podem trazer aos atletas, principalmente no futebol, no qual as torcidas são mais atuantes e têm o humor influenciado pelos resultados do time. Ela acumula trabalhos com o ex-atacante e atual coordenador do Corinthians Emerson Sheik, o goleiro Sidão, o atacante Lucca, a meia Bebel e o campeão mundial de jiu-jítsu Alexandre Ribeiro.

“A rede social é benéfica e prejudicial para o atleta na mesma proporção. Os atletas normalmente passam muito tempo nas redes sociais, e há comentários do público e da imprensa que nem sempre são positivos”, disse Amanda. “Os comentários prejudicam o desempenho dos atletas nos dias da competição, porque acabam gerando ansiedade e estresse que atrapalham a parte mental e a física. Conversamos sobre como utilizar a internet apenas para coisas produtivas, filtrando o que se lê, e como preencher esse tempo que se fica nas redes com algo benéfico. É um desafio.”

26 set 2019, às 00h00.
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