Lucas Braga explica como amor pelo Santos dificultou adaptação: “Peso grande nos meus ombros”

Lucas Braga realizou o sonho de qualquer torcedor: jogar pelo clube de coração. Mas esse amor antigo pelo Santos causou muita dificuldade nos primeiros dias após o convite do técnico Cuca.

O atacante treinava e jogava com a responsabilidade normal de estar em um grande clube, além do peso de fazer em campo o que esperava que os atletas fizessem quando estava na arquibancada ou na frente da televisão.

“Por ser torcedor, eu trazia comigo uma responsabilidade grande, peso grande nos meus ombros. Como sou torcedor do Santos, não podia errar. E quando se tem medo de errar, não se arrisca. Sofri muito com isso. Não passei por processo de base… Acompanhava todos os jogos do Santos pela TV, passei a trabalhar com quem via na TV e era peso grande. Mas grupo me abraçou, com o passar do tempo me soltei, arrisquei mais. Cuca sempre me ajudou muito nisso, falava que adaptação é processo normal, principalmente para mim que foi muito rápido. Cheguei e em três dias fui relacionado para o primeiro jogo, Uribe machucou na véspera do jogo. Viajei e entrei no jogo. Cuca me auxilia muito e é essencial para a evolução”, disse Lucas Braga, em entrevista à Gazeta Esportiva.

Braga estreou em 20 de agosto, na vitória por 1 a 0 sobre o Sport, na Ilha do Retiro. Desde então, oscilou, se reergueu e hoje é um dos titulares do Peixe finalista da Libertadores da América. A decisão ocorrerá diante do Palmeiras no próximo sábado, às 17h, no Maracanã.

A história do jogador de 24 anos começou aos seis, mas com oito anos ele foi para uma escolinha de futebol do Santos em São Paulo. Lucas Braga relembrou toda a sua trajetória nesta entrevista. Confira abaixo:

Gazeta Esportiva: qual a origem do seu amor pelo Santos?

Lucas Braga: “Começou desde pequenininho mais por influência da minha mãe e do meu avô. Sempre foram santistas e alimentaram esse amor em mim desde pequeno. Sempre quis jogar futebol, então aos seis anos fui para a escolinha de futebol. A princípio salão, depois society e aos 12 fiz a transição para o campo. Esse amor começou pela influência da minha mãe e do meu avô”.

Onde você começou? E quando passou para a escolinha do Santos?

“Fui pipocando. Com seis anos no futsal, depois ao oito em escolinha de futebol society no Santos. E aos 12 comecei em projetos sociais”.

Todos sonham, mas você lembra quando começou a sentir que dava para ser jogador profissional?

“Na escolinha fazíamos excursões para jogos do Santos na Vila Belmiro. Entrei com os atletas em campo e meu sonho só foi aumentando. Na escolinha a gente sempre almeja estar no profissional, numa base. É o que sempre queremos. Tempo foi passando, fazia testes no Santos. Mas são muitos garotos, franquias no Brasil inteiro. Jogadores estavam preparados para uma base. Eu franzino, nunca havia tido destaque nem no lado de alimentação ou nutrição. Desde pequeno sempre senti dificuldade. Mas nunca me deixei abalar, saberia que ganharia com o tempo e correndo atrás. Quando idade da escolinha deu, corri por fora. Fui buscar onde havia mais testes. Para na frente realizar meu sonho de jogar pelo Santos. Isso que me motivou”.

Quando você começou a competir de fato, já federado?

“Eu sempre falo que fui por etapas. Na escolinha sonhava em base. Depois um campeonato federado. Fui jogar na cidade de São Roque em 2014, time de cidade, não era clube. Jogamos campeonato da Federação Paulista. Era algo por temporada e não se sabia o dia de amanhã. Então as portas começaram a se abrir. Primeiro clube mesmo, de base, foi o JMalucelli em 2016. Me alimentava bem, treinava bem. Mas já tinha 20 anos de idade”.

E você foi parar na terceira divisão do Paraná…

“Fui em teste no JMalucelli, passei e entrei no sub-19. Três atletas acima da idade poderiam entrar. Tinha dois, faltava um. Era para ser. JMalucelli teve problema judicial e fechou as portas. Eu com 21 anos tive que sair e procurar um time da terceira divisão, o Batel, do Paraná. Isso já em 2017. Transitei entre várzea e esse time de terceira divisão”.

E antes do Batel você passou a assistir mais o Santos, né?

“Em 2017, quando o JMalucelli fechou as portas, passei quatro meses em casa em São Paulo. Então fui a todos os jogos no Pacaembu. Quando fui para Guarapuava, ficou impossível assistir no estádio. Passei esse tempo sem ver o Peixe de perto”.

Quantos jogos você foi?

“Eu acredito que tenham sido uns oito jogos entre Vila Belmiro e Pacaembu que eu tenha ido. Vila foi quando pequeno nas excursões. A gente entrava com os jogadores, experiência a mais. Depois só no Pacaembu mais vezes”.

E você voltou para a Vila Belmiro como adversário. Copa do Brasil de 2018 pelo Luverdense. Como foi?

“As coisas mudaram ali. Realizei meu primeiro sonho, de jogar na Vila Belmiro. Eu sonhava mesmo, de dormir e às vezes sonhar. Mentalizava dentro da Vila. Queria a favor, mas foi um sonho jogar onde vi jogos e onde tantos craques pisaram. Foi maravilhoso”.

Você conseguiu ter bom desempenho? Ficou muito nervoso?

“Nunca tinha jogado um jogo dessa expressão. Oitavas de final da Copa do Brasil por termos ganhado a Copa Verde. Era algo novo, até lá era só Série C. Experiência muito interessante, recebi mensagens de amigos sobre jogar na Vila, pressão, se estava preparado. Pessoal sabia do meu time do coração. Quinta-feira, 21h30, aquilo foi me inflando. Trouxe esse apoio de amigos para tentar tirar um pouco da pressão. Estava muito ansioso e só passou no primeiro toque na bola. Abrimos o placar, isso deu tranquilidade e tive um bom desempenho naquele jogo mesmo com a derrota (de 5 a 1)”.

Você ficou um tempo sem jogar depois do JMalucelli. Pensou em parar? Sua família seguiu apoiando?

“Eu sempre tive muito apoio dos meus pais, desde o começo da trajetória. Graças a eles não desisti, mas teve um momento em 2014, quando eu estava no São Roque, que eu faria 18 anos e não falaram para parar, falaram para fazer algo meio período e no outro treina e busca sonho. Achei ótima ideia, poderia correr atrás das duas coisas. Meu sonho e sem deixar a responsabilidade de lado. Trabalhei um ano e meio numa gráfica do meu pai na zona oeste de São Paulo. No outro período treinando, evoluindo e buscando uma oportunidade”.

Essa partida pelo Luverdense te aproximou do Santos. Foi feito um pré-contrato, você demorou seis meses para vir e depois acabou emprestado. Como foi esse período?

“Foi um período onde realizei meu sonho, fiz um pré-contrato e esperei metade de 2019 para vir ao Santos. Quando cheguei Sampaoli já tinha time montado, Santos fazia boa campanha já. Sabia que teria que esperar, me destacar. Campeonato sub-23 acabou em setembro e havia muita coisa no ano. Eu continuaria treinando separadamente, uma oportunidade difícil. Então pensei em ser emprestado para mostrar valor fora do Santos e ter uma oportunidade. Fui para o Cuiabá e recebi a ligação do Elano. Ele não sabia que eu era do Santos e me levou para a Internacional de Limeira. Paulistão, campeonato visado, contra times grandes de São Paulo. Elano me ajudou muito e foi muito vantajoso ser emprestado naquele momento”.

A Inter venceu o Corinthians na arena por 1 a 0, com uma assistência sua. Aquela atuação foi um salto na sua carreira?

“A campanha em si foi boa, mas esse jogo contra o Corinthians foi televisionado, talvez o único em TV aberta. Sabia que teria que me destacar, tinha certeza que se fizesse bom jogo ia me destacar na visão de muitos. E consegui”.

Você voltou, foi reintegrado pelo Cuca e teve uma adaptação difícil. Ser torcedor do Santos te ajudou ou te atrapalhou naquele momento?

“Por ser torcedor, eu trazia comigo uma responsabilidade grande, peso grande nos meus ombros. Como sou torcedor do Santos, não podia errar. E quando se tem medo de errar, não se arrisca. Sofri muito com isso. Não passei por processo de base… Acompanhava todos os jogos do Santos pela TV, passei a trabalhar com quem via na TV e era peso grande. Mas grupo me abraçou, com o passar do tempo me soltei, arrisquei mais. Cuca sempre me ajudou muito nisso, falava que adaptação é processo normal, principalmente para mim que foi muito rápido. Cheguei e em três dias fui relacionado para o primeiro jogo, Uribe machucou na véspera do jogo. Viajei e entrei no jogo. Cuca me auxilia muito e é essencial para a evolução”.

Se você estivesse na arquibancada e visse o Lucas Braga nos primeiros jogos, você criticaria?

“Rapaz, nunca fui de criticar, principalmente por eu jogar e entender o que se passa. Nunca tinha jogado em clube grande, mas entendia o processo de adaptação. Não teria criticado. Sempre levei críticas como processo, são para meu bem, estudar, ouvir, entender e evoluir. Isso me ajudou bastante”.

Falando em críticas, teve alguma que te marcou?

“Algumas críticas no meu aniversário me marcaram. Santos faz publicação de feliz aniversário lá em novembro e muita gente comentou. Eu salvei a publicação para me motivar, que a partir dali eu evoluísse e entendesse que a situação iria melhorar. Usei esse dia como motivação”.

Cuca sempre destaca sua importância tática. Você já chegou ao Santos com esse entendimento de jogo e sabendo da necessidade de ajudar na marcação e jogar em diferentes funções?

“Aplicação tática vem de outros clubes, principalmente por ter jogado em clubes que se preocupavam primeiro em defender que atacar na maioria das ocasiões. Então era meio que obrigação marcar, ser aplicado, porque contra times grandes não se pode errar. E o Santos propõe jogo, senti muita dificuldade no começo. Tinha aplicação tática, marcação, vontade, mas na hora de propor nunca tinha vivido isso. Cuca tem me ajudado muito nisso. Sempre joguei na ponta esquerda e direita e ele me ensinou que poderia ajudar em mais posições. Ele tem me ajudado muito diariamente e conhecer até onde posso jogar”.

E hoje você já se sente seguro para jogar como jogava em outros clubes ou na várzea?

“Hoje eu me sinto muito mais seguro para executar jogadas que fazia em outros clubes. É processo de constante evolução, posso evoluir muito mais ainda”.

27 jan 2021, às 07h00. Atualizado às 09h15.
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