Fernando Prass: o ídolo de uma nação verde

Fernando Prass, goleio do Palmeiras,, bateu um papo exclusivo com o portal RIC Mais, confira (Foto: Roberto Lourenço)

Ao portal RIC Mais, o goleiro do Palmeiras relembra a carreira e fala sobre os melhores momentos

Um dos maiores ídolos da história recente do Palmeiras, o goleiro Fernando Prass recebeu a equipe do Portal Ric Mais para um bate papo descontraído, na concentração do Palmeiras que veio a Curitiba para enfrentar o Atlético Paranaense em jogo válido pela última rodada do certame nacional. Durante a conversa, a carreira do arqueiro alviverde foi o centro das atenções. Prass, que foi revelado na base do Grêmio, falou do seu início de carreira na equipe gaúcha e desuas passagens por times como Vila Nova, Coritiba, União Leiria, Vasco da Gama e Palmeiras. O ídolo palmeirense não fugiu de temas complicados como atrasos de salário no time da colina, e temporada abaixo do esperado da equipe paulista na temporada de 2017.

Confira na íntegra o bate papo com o goleiro do Palmeiras:

Portal RIC Mais: Fernando Prass você é Formado na base do Grêmio. Fale um pouco da sua trajetória até chegar ao profissional.

Fernando Prass: Eu morava numa cidade próxima a Porto Alegre. Fui descoberto num torneio de futebol de areia por um olheiro do Grêmio, e fui pro Grêmio em 91/92. Ali passei por todas as categorias de base. Nesse meio tempo, saí em 94 e voltei 95, e fui subindo de categoria em categoria até chegar no profissional em 98/99. O Grêmio sempre foi um clube que teve muito prestígio na formação, principalmente na formação de goleiros. A gente tem uma lista enorme de goleiros que foram formados no Grêmio, como o Cássio, Marcelo Grohe, entre outros. Depois como a concorrência era muita na época do Danrlei, o Murilo era referência na posição, quando eu cheguei aos 21 anos, fui emprestado.

Portal RIC Mais: Você foi campeão gaúcho e da Copa Sul pelo Grêmio em 1999, mas depois foi emprestado. Como foi a sua passagem pela Francana de São Paulo e pelo Vila Nova de Goiás respectivamente?

Fernando Prass: Na Francana foi uma passagem bem rápida. Segunda divisão do Campeonato Paulista, com muita dificuldade. Mas onde eu comecei a jogar futebol de verdade foi no Vila Nova. Fui Campeão pelo profissional, a primeira vez como titular. O Goiás vinha de uma sequência de cinco campeonatos seguidos, o Vila Nova na época estava dois anos sem ganhar do Goiás um clássico, e o título é mais relevante ainda pela diferença de estrutura que os dois clubes tinham. O Goiás era um time de série A. Para você ter uma noção, o time do Goiás tinha o Harlei, que foi um goleiro que marcou época lá, o meio campo era Marabá, Josué, Túlio que jogou no Botafogo depois e Danilo. O ataque era Fernandão, Dio e Araujo. Era um baita time.

Portal RIC Mais: Depois dessa experiência no Vila, você veio para o Coritiba. Como foi que se deu a sua vinda para a equipe Coxa branca?

Fernando Prass: Eu estava há um ano e meio no Vila Nova. O Vila Nova tinha mudado de presidente e estava passando por dificuldade financeira, então eles chamaram os jogadores e falaram que não iriam conseguir honrar os compromissos, os contratos e que, quem desejasse ser liberado, seria. Eu pedi minha liberação, voltei pro Grêmio de empréstimo, mas sem time, não iria ficar no Grêmio porque o Grêmio tinha subido o Eduardo Martini na época. Eu fiquei em casa praticamente um mês, e nesse meio tempo Sergio Ramires, que foi o treinador que me viu na Francana, me ligou e me levou para o Vila Nova. Ele tinha assumido o Coritiba de diretor de futebol. Me indicou para o Coritiba. Eu cheguei ao Coritiba em 2002. Na primeira parte do ano foi um pouco complicado, teve mudança de treinador, veio o Bonamigo, e a partir daí eu me firmei e consegui ser bicampeão paranaense no Coritiba. Conseguimos classificação para a Libertadores em 2003.

Portal RIC Mais: Você foi Bicampeão Paranaense em 2003 e 2004. O que foi mais marcante? O campeonato invicto em 2003 contra o Paranavaí ou o título conquistado em cima do maior rival do Coxa, o Atlético Paranaense, em 2004?

Fernando Prass: O ano de 2003 foi marcante por causa da invencibilidade, final contra o Paranavaí, mas acho que 2004 é mais emblemático por que foi na Arena. Acho que foi o primeiro título do Coritiba dentro da nova Arena deles, então foi bastante marcante. A gente tinha um time que era muito bom, tanto é que se classificou para a Libertadores e daquele time saíram vários jogadores que foram vendidos e fizeram carreira na Europa.

Portal RIC Mais: Depois de três anos de sucesso no Coritiba em 2005, você foi vendido para o União Leiria. Como foi o processo de transferência?

Fernando Prass: Eu fui para lá em meados de 2005. Joguei duas rodadas do campeonato brasileiro, se eu não me engano, e fui vendido. Já tinha saído o Adriano, para o Sevilla; o Marcel, para Corrêa; tinha saído o Roberto Brun; depois saiu o Miranda e o Rafinha. Teve um grande desmanche, na realidade, nesse ano de 2005.

Portal RIC Mais: E como foi o processo de adaptação ao futebol europeu?

Fernando Prass: A adaptação, sem dúvida é mais fácil pela língua, pelos costumes. Eu acho que na realidade o que o jogador sofre mais pra se adaptar, é com a comunicação. Você não consegue e entender o que as pessoas dizem, não consegue se relacionar isso dificulta muito, no dia a dia. Agora no meu time tinham quinze brasileiros, então isso ajudava muito. A adaptação foi tranquila. A única coisa que é diferente do Brasil era que o meu time era um time empresa, então, muito embora tivesse um estádio da Europa, muito bonito e confortável, a média de público era 1500 2000 mil pessoas, não tinha aquela cobrança que tem um time aqui no Brasi.

Portal RIC Mais: Na temporada de 2006/2007, você foi eleito o melhor jogador do primeiro turno do Campeonato Português, o melhor jogador do união Leiria no campeonato e eleito entre os dez melhores jogadores do campeonato. O que faltou para que você tivesse jogado em um time de maior expressão na Europa?

Fernando Prass: Na realidade, hoje eu tenho outra cabeça. O futebol virou um negócio. Então, quando você pega um jogador, não é só pelo lado desportivo. Você vê o que ele pode te dar de retorno, renda, idade e eu nunca tive empresário. Nos moldes que está o futebol, precisa ter. Acho que foi isso que me atrapalhou porque eu estive “vendido”. Eu estava no Brasil e me ligaram dizendo que tinham visto uma foto minha na capa do Jornal Record, se não me engano, dizendo que eu tinha sido vendido para o Sporting, mas eu nunca soube de nada. Eu soube de duas situações: uma do Eintracht Frankfurt da Alemanha e outra para o Lens da França, mas o meu Presidente nunca liberou. Como ele tinha muita condição financeira e a gente tinha classificado para a Copa da UEFA, ficamos em 4º no campeonato Português. Deu uma classificação histórica para a Copa UEFA. Ele resolveu segurar os jogadores, de repente se uma pessoa, para olhar esse lado comercial do futebol eu poderia ter saído para um outro time, mas não me arrependo.

Portal RIC Mais: E como foi voltar para o Brasil em 2009, jogando pela equipe do Vasco que se encontrava na série B?

Fernando Prass: Eu cheguei no Vasco numa situação complicada, não só de segunda divisão, mas a situação geral do clube era muito crítica em termos de estrutura. Em termos de condição financeira, a gente passou muita dificuldade. Tem umas coisas que a gente devia ter tirado foto do que a gente viveu no Vasco que o pessoal não acredita. Por exemplo, nos treinos de dois períodos tinha dois salões de 20m, 30m, com 15 colchões no chão e a gente descansava ali. Isso para um time da grandeza do Vasco é inconcebível, e sem falar das dificuldades financeiras de salários atrasados. Em 2011, a gente conseguiu montar um time muito bom mesmo, com Felipe, Juninho, Alex Sandro, Souza, Eduardo Costa, Romulo, que foi pra seleção depois, e a gente ter conseguido ser campeão do Brasil aqui em Curitiba contra o Coritiba foi espetacular. Na minha opinião, contra um dos melhores times que o Coritiba já teve. Em 2011 ainda fomos vice-campeões brasileiros, perdendo por dois pontos para o Corinthians e a gente levanta algumas coisas até hoje ainda em relação à arbitragem que foram absurdos que aconteceram.

Portal RIC Mais: E como foi sua chegada no Palmeiras no Final de 2012, sabendo que mais uma vez você iria chegar para jogar a série B em 2013?

Fernando Prass: Foi complicado, e o Palmeiras vinha de outras quedas. Tinha caído em 2002 também, então estava uma situação muito complicada. O clube estava numa mudança de presidente e a posse no Palmeiras era no meio de janeiro. Eu fui a última contratação do presidente anterior. Ele não contratou ninguém. A gente começou a temporada com 18 jogadores tendo que jogar uma Libertadores. Foi realmente muito difícil, mas a gente conseguiu no ano de 2013.

Portal RIC Mais: Depois do acesso, o Palmeiras teve um 2014 muito complicado, mas em 2015 conseguiu reagir e conquistar a Copa do Brasil. Quão importante foi esse título para o Palmeiras?

Fernando Prass: Na final da Copa do Brasil o Santos estava em um momento melhor. Tanto é que todo mundo falava que o Santos iria atropelar o Palmeiras, e a gente fez um jogo na Vila muito difícil. O Santos pressionou muito a gente, perdeu pênalti, criou muitas chances e teve aquele fatídico gol que eles perderam no final, no fim do jogo sem goleiro, e a gente conseguiu levar a decisão pra casa. No segundo jogo em casa, a gente foi muito superior. Com doze segundos, o Gabriel Jesus saiu cara a cara contra o Vanderlei. Nós fizemos 2×0 e eles fizeram o gol deles no finalzinho do jogo e levaram a decisão para os pênaltis. Esse jogo, muito embora o campeonato brasileiro depois de 23 anos seja o título mais importante, eu acho que se você perguntar para qualquer torcedor Palmeirense, se pudesse voltar no tempo para ver um jogo de novo, ele veria a Copa do Brasil, porque foi uma coisa épica mesmo.

Portal RIC Mais: Bom, como você mesmo disse, o Palmeiras voltou a ser campeão brasileiro depois de 23 anos. Contudo, mesmo com o apoio da patrocinadora que trouxe grandes jogadores em 2017, as coisas não deram certo. O que o torcedor alviverde pode esperar da temporada de 2018. Qual é a expectativa?

Fernando Prass: A frustração vem na mesma proporção da expectativa que se cria, e se criou uma expectativa absurda em cima do time do Palmeiras. Só que futebol não é basquete, não é tênis. Futebol é 1×0, 0x0. De repente um escorregão pode determinar a passagem de um time para a final de um campeonato ou não, mas eu acho que a gente aprendeu muito com o que aconteceu esse ano em termos de cobrança de expectativa, de formação de grupo, e o maior erro é que o futebol mostra que se decide dentro de campo. Não tem nada de valores de jogadores, folha salarial, investimento. O futebol mesmo se resume em ter que mostrar isso dentro de campo no dia a dia, e a temporada de 2018 vai ser muito similar à de 2017, no dia a dia, na expectativa, na cobrança. Isso se não for maior.

*Por Roberto Lourenço

5 dez 2017, às 00h00.
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