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por Gislene Bastos


A tarde tinha temperatura agradável e o carro deslizou pela saída oeste de Curitiba. Já na BR-476, a Refinaria da Petrobrás – a maior planta industrial do sul do País – e a cidade de Araucária logo surgiram no caminho. Seguimos. Depois de Araucária a rodovia ganha muitas curvas, ladeadas por lavouras e campos de reflorestamento. A estrada tem pista simples, mas é bem sinalizada e o asfalto está lisinho. Três quilômetros antes da entrada de Lapa, ou “da” Lapa, como fala o paranaense, o motorista precisa desembolsar R$ 14,20 na praça do pedágio.

Bucolismo e história

O trajeto prepara o visitante para o mergulho histórico e relaxante que Lapa oferece. A avenida que dá acesso a cidade e atravessa o centro é toda arborizada, com um largo caminho de calçamento entre as árvores. Espaço aproveitado pelos moradores no vai e vem do trabalho e estudos – ou num convidativo passeio no fim da tarde. Não é raro encontrar namorados de mãos dadas, jovens de bicicleta, gente jogando conversa fora, pessoas sentadas nos bancos de madeira apenas contemplando o movimento. Ao longo de toda a avenida as construções antigas, algumas do século 18, são mantidas sempre com tinta nova. Numa e noutra é possível conferir peças preservadas da época dos tropeiros, da colonização alemã ou da Revolução Federalista de 1894, quando a cidade resistiu por 26 dias ao ataque de rebeldes contrários à instalação da República. Ainda são preservados uniformes do Exército, armas e documentos do denominado “Cerco da Lapa”. Uma rica memória tombada como Patrimônio Histórico da União.

LapaPR Foto Gislene Bastos

Logo depois de atravessar o centro pegamos uma rua à esquerda, em direção ao Parque Estadual do Monge. O nome é uma homenagem ao ermitão João Maria, que morava numa gruta do parque e dedicou a vida à oração e ao estudo das plantas para cura de doentes. Fiéis ainda hoje sobem  a escada de 224 degraus que leva ao local. Vão agradecer pelas graças alcançadas. No parque também ficam localizadas as formações areníticas em formato de lápis que dão nome à cidade. E, é lá que o voo livre acontece! Para chegar, são 3,5 km pela Avenida Getúlio Vargas, via asfaltada de onde podemos observar um pouco mais do estilo de vida dos moradores e das paisagens da Lapa. As araucárias dominam a vegetação.

O voo e a recompensa

Já no alto do morro uma estátua de Cristo abençoa a cidade e marca o início da trilha para a rampa.  Uns trezentos metros de caminhada em meio aos arbustos e fico sem palavras… O sol a nossa frente ofusca a visão por alguns segundos – e evidencia cada tom de verde ao longo do planalto que surge aos nossos pés. Da ponta da rampa olho para a esquerda e avisto uma rocha coberta por plantas rasteiras. O formato arredondado lembra uma cabeça oferecendo-se ao céu.

Robson Franini Foto Gislene Bastos

A parede de pedras se estende por quilômetros e permite o voo de encosta, o lift. Os ventures que nascem entre uma e outra saliência na mata ajudam a manter o piloto atento. Nesse dia o vento oeste soprava forte, inviabilizando por algumas horas a decolagem. Foi preciso esperar… Já no fim da tarde, o piloto local Robson Franini abriu a rampa! Uma corrida e o vôo em direção ao sol poente! Momentos de puro prazer… Ainda mais porque quando as condições do voo restringem o pouso no morro, há um campo enorme logo à frente – e com acesso para todo tipo de automóvel fazer o resgate.

20 jul 2021, às 12h25. Atualizado em: 13 jul 2021 às 16h50.
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