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por Gislene Bastos

Uma tragédia que abalou o mundo completa dez anos. O terremoto do dia 12 de janeiro de 2010, no Haiti, teve magnitude 7 e epicentro a cerca de 25 km da capital, Porto Príncipe. A Organização das Nações Unidas estima que 200 mil pessoas morreram, outras 350 mil ficaram feridas.

Quem sobreviveu ao tremor precisou recomeçar. Em muitos casos, isso significou deixar o Haiti. Países como o Brasil se tornaram destinos da esperança. E tiveram que criar ou reforçar ações para acolhida de migrantes e refugiados.

Mas como é mudar de país quando essa não foi uma escolha sonhada, planejada?

Famílias inteiras convivem com a realidade da migração contumaz num dos países mais belos das Américas. Primeiro foi a guerra civil e as consequências sociais que gerou para a população. Depois, veio a devastação causada pelo terremoto.

Pessoas queridas ficaram para trás. Corpos talvez. Lugares e vivências passaram a morar na lembrança.

Pátria de destino e esperança

Haitianos são atualmente o segundo povo em número de pedidos de refúgio no Brasil, depois de anos na liderança dessa lista. Foram 7 mil solicitações em 2018, conforme os últimos dados disponibilizados pelo Cômite Nacional para os Refugiados, ligado ao Ministério da Justiça e Segurança Pública.

E muitos profissionais bem qualificados acabam se submetendo a empregos mal remunerados ou sem garantias legais porque não conseguem se comunicar com facilidade. E como a língua sempre foi uma barreira natural para o estrangeiro, ações de integração precisam prever o encaminhamento para aulas específicas.

Caos político destrói tanto quanto o mega terremoto

O caos político, econômico e institucional na Venezuela mudou o contexto do acolhimento nos últimos anos. Cidadãos venezuelanos passaram a liderar os pedidos de refúgio. O governo brasileiro calcula mais de 201 mil vivendo hoje no país. Aproximadamente outros 6 mil permanecem alojados em 13 abrigos administrados pelo Exército, só em Roraima.

A política de fronteiras abertas permite que venezuelanos solicitem residência temporária ou status de refugiado, sem necessidade de vistos. Assim, o programa de interiorização realizado a partir da acolhida no Norte do país já beneficiou 22 mil pessoas, transferidas para cidades com mais oportunidades de trabalho e renda em diferentes estados brasileiros.

Longo conflito na Síria espalha população pelo mundo

Entre os registros de refúgio ativos a população síria é maioria, com 36% das concessões. Na sequência estão antigos moradores da República Democrática do Congo e cidadãos angolanos.

“Quando você tá afundando vai manter a chance em busca de vida!”. Karim Hanna fala isso com o olhar alagado em memórias doídas. Eu conversei com o jovem refugiado sírio durante a permanência dele na Missão Mais, em Colombo, região metropolitana de Curitiba, em 2017.

Quando você tá afundando vai manter a chance em busca de vida!

Ele frequentava aulas de português. A construção de uma vida nova passa, necessariamente, pelo conhecimento do idioma do país de destino. Os sírios representam um terço da população total de refugiados no mundo. Desde 2011, metade da população síria foi forçada a fugir da violência. É a maior crise de deslocamento mundial.

Refugiados: sonhos migrantes

Em 2018, segundo a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), quase 70,8 milhões de indivíduos foram deslocados à força em todo o mundo por causa de perseguição, conflito, violência ou violações de direitos humanos. O número de refugiados chegou a 25,9 milhões de pessoas. Crescimento superior a 50% nos últimos dez anos. As crianças representam metade dessa população. Fortalecer a acolhida é dar esperança para a humanidade – em todo lugar.

7 jan 2020, às 00h00. Atualizado em: 17 abr 2023 às 15h44.
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