Por Libby George e Paul Carsten

LAGOS/ABUJA (Reuters) – A universidade britânica de Aberdeen informou nesta quinta-feira que devolverá uma peça da coleção de bronzes do Benin à Nigéria em semanas, mais de um século depois de o Reino Unido se apoderar das esculturas e leiloá-las para museus ocidentais e colecionadores.

A Universidade de Aberdeen disse que a escultura de um Oba, ou governante, do Reino de Benin, foi retirada da Nigéria de uma forma “extremamente imoral”, levando-a a entrar em contato com as autoridades em 2019 para negociar seu retorno. A instituição será uma das primeiras a devolver uma peça obtida nessas circunstâncias.

A pressão para devolver os bronzes de Benin –que são, na verdade, esculturas em relevo feitas de liga de cobre– e outros artefatos levados por potências coloniais tem aumentado recentemente.

Neil Curtis, chefe de museus e coleções especiais de Aberdeen, disse que o bronze, comprado em 1957, foi “escancaradamente saqueado”.

“Ficou claro que tínhamos que fazer algo”, disse Curtis.

O professor Abba Isa Tijani, diretor geral da Comissão Nacional de Museus e Monumentos da Nigéria, disse que a importância de exibir o bronze dentro da Nigéria pela primeira vez em mais de 120 anos era inexprimível.

“É parte da nossa identidade, parte da nossa herança, que nos foi tirada por muitos anos”, disse Tijani.

Soldados britânicos apreenderam milhares de peças fundidas e esculturas de metal do Reino de Benin, então separado da Nigéria governada pelos britânicos, em 1897.

O British Museum, de Londres, que detém centenas de esculturas, juntamente com vários outros museus, formou um Grupo de Diálogo de Benin para discutir a exibição das esculturas na cidade de Benin, algumas delas oficialmente emprestadas. O museu informou que as discussões estão em andamento.

A Alemanha está negociando devolver 440 bronzes de Benin, de acordo com jornais locais, enquanto o Jesus College, da Universidade de Cambridge, disse que finalizou as aprovações em dezembro para devolver outro bronze.

Tijani disse que museus dos EUA também concordaram em devolver mais dois bronzes.

O governador do estado de Edo, do qual Benin é capital, planeja construir até o final de 2021 um centro para armazenar e estudar os artefatos devolvidos, e um museu permanente até 2025.

O artista Victor Ehikhamenor, nativo do estado de Edo, disse esperar que a decisão leve outros a seguirem o exemplo.

“Por algumas dessas esculturas estarem faltando em nosso ambiente, as pessoas não conseguem contextualizar de onde viemos”, disse.

(Reportagem de Libby George, em Lagos, e Paul Carsten, em Abuja)

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25 mar 2021, às 13h49. Atualizado às 13h50.
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