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por Redação RIC.com.br

Depois de receber duas harpias do Refúgio Biológico Bela Vista da Itaipu Binacional, em Foz do Iguaçu (PR), em novembro do ano passado, o Zoológico de Nuremberg (Tiergarten Nürnberg), da Alemanha, pretende receber mais aves da espécie nascidas no programa de conservação da Itaipu Binacional. O interesse foi manifestado por meio de carta remetida pela diretoria do zoo e recebida pela Diretoria de Coordenação neste mês.

“O sucesso alcançado pela Itaipu com as harpias é único em todo o mundo e merece o maior respeito”, afirmam, na carta, Dag Encke e Lorenzo Fersen, respectivamente diretor e curador do zoológico, um dos maiores e mais importantes da Europa.

O RBV é referência na reprodução de harpias fora do ambiente natural (ex situ), com uma taxa de sobrevivência de 70% e um plantel de 33 animais. Atualmente, o Refúgio é a única instituição com reprodução continuada da espécie e a única no mundo que possui duas gerações de animais, ou seja, filhotes de animais já nascidos em cativeiro. Apenas essa segunda geração pode ser exportada, de acordo com as leis internacionais. Em 2020, Itaipu enviou um casal de harpias também para o ZooParc de Beauval, o maior da França.

Na carta, a diretoria também informa as condições atuais dos dois exemplares, que “passam bem” e “já estão adaptados ao recinto e clima alemães”. O desejo do Zoológico de Nuremberg é melhorar ainda mais o desempenho da reprodução das harpias em cativeiro e, mais adiante, receber mais aves da espécie. Eles também têm um programa de conservação da espécie, há 40 anos, com bons resultados, mas sem a regularidade da Itaipu.

Além de contribuir na reprodução dos animais, o Zoo de Nuremberg dá suporte a projetos de pesquisa em regiões de ocorrência natural de harpia, principalmente no Brasil. Outra iniciativa é o apoio à criação de um programa europeu de conservação de harpias, em cooperação com a Eaza (Associação Europeia de Zoos e Aquários).

Fotos: Rubens Fraulini/Itaipu Binacional

Cooperação internacional

O empréstimo faz parte de um programa de manejo internacional para proteger a Harpia harpyja da extinção. É essa iniciativa global, que comporta 37 instituições, sendo Itaipu uma delas, a responsável pela sugestão de intercâmbios como esse feito entre o Refúgio de Itaipu e o Zoo de Nuremberg.

A sugestão para os intercâmbios das harpias parte deste grupo, a partir da análise da população global da espécie. São ponderados vários critérios, como a viabilidade do cruzamento com outros indivíduos já instalados no ambiente receptor, a partir da avaliação do grau de parentesco dos animais. A medida evita a formação de pares consanguíneos e com menor chance de sucesso reprodutivo.

No Brasil, a execução do programa é compartilhada pelo Projeto Harpia e pela Associação de Zoológicos e Aquários do Brasil (Azab). No país, o responsável por esta avaliação é o biólogo, mestre e especialista no manejo de aves de rapina, Marcos José de Oliveira, da Divisão de Áreas Protegidas da Itaipu. Ele também representa a binacional no grupo. A chancela para o envio é dada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). “O envio não significa que estamos abrindo mão das aves. Elas continuam sendo animais brasileiros, pertencentes ao nosso País, e que fazem parte de uma única população”, reforça.

Trabalhar pela espécie

Programas de reprodução de espécies ameaçadas, como o desenvolvido com as harpias no Refúgio Bela Vista, permitem que haja animais suficientes e saudáveis para futuros projetos de reintrodução na natureza. Mas, para isso, primeiro é necessário ter uma quantidade segura da espécie sob o cuidado humano e em diversas instituições.

“Pegar animais que são vítimas de um problema, como tráfico ou queimadas, e conseguir reproduzi-los sob cuidados humanos, para montar uma população, é uma vitória importante; é uma forma de garantir a permanência da espécie”, explica o veterinário Pedro Teles, da Itaipu. “E temos que pensar em longo prazo; se soltarmos todas as harpias hoje, por exemplo, sem que elas estejam preparadas, corremos o risco de, no futuro, não termos mais nenhuma”, completa.

Outro ponto a considerar é que os filhotes nascidos sob cuidados humanos não estão preparados para soltura. “Seria extremamente estressante para as harpias que sempre viveram no recinto serem soltas. Elas estão acostumadas com a condição em que vivem”, afirma Teles. “É muito diferente de soltar um animal adulto, que já viveu na floresta, mas que ficou algum tempo longe, passando por uma reabilitação, por exemplo.”

Por isso, a destinação de exemplares de harpia para zoológicos no exterior é um passo importante para consolidar populações autossustentáveis nestas instituições. Trata-se de mais uma garantia da sobrevivência da maior ave de rapina das Américas, com a esperança de que, em breve, ela seja riscada das listas de animais ameaçados de extinção.

22 jan 2021, às 17h38.
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