Burla toda segurança, ultrapassa barreiras e foge.

Para em meio ao trânsito e chama um táxi.

O motorista não entende sua língua, mas conhece o caminho.

Seu corpo é brasa viva em busca do arrefecimento.

Pela rua inquieta, o taxista faz zigue-zague.

No painel vermelho, o preço da passagem que paga feliz.

Não espera o troco. Dispara pela calçada. Quase voa.

 

O salto alto atrapalha os passos, mas segue.

A porta do predinho vintage está trancada.

Sabe a senha do cadeado antigo. Abre com facilidade.

Sobe as escadas e, de novo, está na porta. Surpresa?!

Mas desta vez, não há tranca. Ela entra. É tigresa.

Ouve o barulho do chuveiro. Toma cuidado ao caminhar.

Sobe no sofá clássico e espera. Seu corpo queima, lateja.

 

Pelas paredes, sinais do bom gosto.

Quadros, gravuras, nada em excesso.

Ele sempre apreciou o minimalismo e não mudou.

Nu, ele surge no corredor, rumo ao closet.

Ele para. Ela perde o equilíbrio e tenta sorrir.

Sem nada dizer, ele se aproxima. Ela se rende.

Seus braços têm vida própria, agora. Encaixe de pernas.

 

Desfaz-se dos medos, dos pudores, da vergonha.

A ira inflama a gruta que exsuda o vulcão intenso.

Os dentes não perdoam os lábios intumescidos dele.

O sangue escorre e ela lambe. Está no auge do cio.

Desfaz-se do vestido com rapidez e perícia.

O roçar das mãos dele na meia, provocam uivos lancinantes.

Ela vira-se e, de joelhos no sofá, abre-se inteira. Ele entra.

 

Lágrimas de prazer rolam pelo rosto antes petrificado.

A meia está molhada e suas pernas estão bambas.

Explode uma, duas, três vezes no ato insano do gozo.

O roçar da pele entremeado pelo tecido da meia é alucinógeno.

Ele deita-se sobre o tapete, ela sobe, mas não tira os saltos.

Galopa sem dó o corpo disponível à loucura.

Neste fustigar ensandecido, ele não resiste e explode. Torrentes!

 

Nada de calmaria. Sem espaço para o lamento.

Agora ele é leão ferido e quer revanche. Morde-lhe também.

Com força, penetra cada recôndito de sua alma, até então, presa.

Os corpos estão soltos. A liberdade impera nos dois. Roçar de espíritos.

Soberana, ela grita e demarca seu território com o líquido puro.

A rua lá fora pertence a outro mundo, aquém de tudo.

Nada detém o prazer preso por longos anos. Eles gozam muito mais!

 

Para ajudar, uma chuva começa a cair mansa, quase um sonho.

As janelas estão abertas e a noite engole o sobradinho.

O mar se revolta e quebra logo depois da avenida.

A chuva engrossa. Ela tira os sapatos e parece flanar agora.

Seu espírito saciado é pluma e seu corpo busca o amor.

Só o prazer importa. Tudo o mais, pode ficar para depois.

Deitada de costas, está aberta. Ele entra. A chama explode. Vida no cio.

 

Jossan Karsten

9 abr 2020, às 00h00. Atualizado em: 5 jun 2020 às 11h26.
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