Um trágico episódio da história da Ucrânia é relembrado em novembro por nativos e descendentes do país no mundo todo, inclusive no Brasil. Trata-se do Holomodor, ou a “grande fome”, genocídio promovido contra os ucranianos pelo governo soviético entre 1932 e 1933, em que foram mortos até 10 milhões por privação de acesso à comida. Com esse número, o episódio supera o cálculo de vítimas do Holocausto nazista, ocorrido há 80 anos.

Em memória às vítimas da fome, o Folclore Ucraniano Barvinok, um dos grupos que preserva a cultura do país europeu em Curitiba, está coletando cestas básicas e itens de café da manhã até quinta-feira (26). As doações irão para o projeto Café do Bem, que distribui alimentos e promove refeições para moradores de rua da capital (veja como doar abaixo).

A iniciativa é acompanhada de um concerto on-line do Coral do Barvinok, promovido em 2018 em parceria com a orquestra Ladies Ensemble, na Capela Santa Maria, na capital. A apresentação será transmitida no sábado (28) nas redes do grupo.

Como explica o maestro do Barvinok, Felipe Oresten, o concerto apresenta o Holomodor de forma didática, já que o episódio não é tão conhecido do público brasileiro, e mostra que, além de tristeza, o acontecimento também evidencia o espírito de luta do povo ucraniano.

“É um tema muito pesado para tratar, então, pensamos não só nas mortes, mas em como a Ucrânia cresceu e continua lutando por um ideal. Por isso, o concerto começa de forma muito triste, com uma música tocada em missas de corpo presente, mas segue numa crescente e termina com o hino espiritual da Ucrânia, que fala de um país livre e soberano”, explica.

Para se chegar a uma fórmula que contemple música e história, o concerto apresenta, além das canções, depoimentos de ucranianos que sofreram com a fome, as guerras, invasões e, mais recentemente, com a repressão à Euromaidan, última grande revolução ucraniana que pedia por maior integração com a Europa e que deixou dezenas de mortos entre 2014 e 2015.

No evento de 2018, na Capela Santa Maria, os depoimentos foram narrados por uma atriz. Agora, para a apresentação on-line, os componentes do Barvinok gravaram as falas. “Trouxemos uma nova roupagem para contar a história, montamos um concerto didático, que prende o público, e o resultado promete ser emocionante”, afirma Oresten.

O evento integra o calendário de comemorações dos 90 anos do Barvinok, que, devido à pandemia, ainda não retomou os ensaios ou apresentações presenciais.

O quarto sábado de novembro foi escolhido pelo governo do país europeu para que os ucranianos do mundo relembrem o Holomodor. A data serve para pressionar outros países, como o Brasil, a reconhecerem o evento como um genocídio.

A divergência em torno do reconhecimento ocorre pela conceituação de genocídio. Enquanto alguns estudiosos consideram que as políticas soviéticas causadoras da fome na Ucrânia se enquadram na definição legal do termo, outros sustentam que o Holomodor foi apenas uma consequência dos problemas logísticos associados a alterações econômicas radicais implementadas durante o período de liquidação da propriedade privada e industrialização.

“Os alemães sentem vergonha e repudiam o nazismo hoje, mas os próprios russos não reconhecem que o Holomodor existiu, levantando dúvidas em outras nações. Existe ainda uma grande discussão de que o episódio é uma inversão da cabeça dos ucranianos, mas há registros de mais de dez milhões de mortos”, conta Oresten.

O que foi o Holodomor?

Como explica o especialista em história e cultura ucraniana, Andreiv Choma, o termo Holodomor deriva da expressão ucraniana “moryty holodom”: holod (fome) e moryty (matar através de privações, esfaimar). Ou seja, literalmente, “matar pela fome”.

Em países frios, como na Ucrânia, os camponeses precisavam garantir, em seis meses, o alimento para o restante do ano, quando as condições climáticas não permitem o cultivo. Mas, entre 1932 e 1933, eles tiveram toda a colheita confiscada pelo regime de Josef Stalin, que tinha como objetivo reprimir movimentos nacionalistas e forçar a “redistribuição social dos alimentos”. Assim, acabaram mortos pela fome, doenças, e lutando pelas próprias vidas.

Os registros de sobreviventes e filhos de ucranianos da época dão ideia do sofrimento imposto pelos soviéticos. “Havia fiscais que observavam as famílias em que pessoas não apresentavam os sintomas da fome: inchaço, emagrecimento, fraqueza, morte por inanição. Suas casas eram revistadas pelas brigadas. A revista era minuciosa. Reviravam tudo, cavavam buracos dentro das casas e no quintal. Caso fossem encontrados quilos de cereais, não precisavam ser grandes quantidades, o pai e a mãe eram fuzilados no ato, em frente aos filhos, sem julgamento”, conta Ludmila Kloczak sobre as memórias da mãe, sobrevivente do Holodomor.

Serviço:

CAMPANHA DE DOAÇÃO | Folclore Ucraniano Barvinok e Café do Bem

O QUE DOAR: alimentos não perecíveis para café da manhã, cestas básicas e/ou dinheiro

ONDE: Alameda Augusto Stellfeld, 795, Centro, Curitiba-PR, onde fica a Sociedade Ucraniana do Brasil (com Elenice, entre 12h e 17h), e o Barbaran, no horário de funcionamento do bar – até quinta-feira (26/11)

TRANSFERÊNCIA BANCÁRIA: banco Itaú (CNPJ 76.573.682/0001-93, banco 341, agência 0098, conta corrente 54333-3)

DÚVIDAS: ligue para (41) 3224-5597

CONCERTO EM MEMÓRIA AO HOLODOMOR

QUANDO: sábado (28/11), às 20h

ONDE: no Facebook (facebook.com/barvinokoficial) e no Youtube (youtube.com/c/AINTEPAR)

23 nov 2020, às 16h49.
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