Mama África, Mãe, Terra de Gigantes. Gigantes animais, paisagens, arvoronas como o baobá e do Gigante Ser Humano. Nosso berço da Humanidade tem proporções vastas, até onde o olhar não alcança, de tão amplo. Por qual razão será que lá começamos? Talvez para termos a amplidão como bom início, no sentido de muitas possibilidades, espaço para nossas mentes criativas desabrocharem e nos diferenciarem como espécie que permaneceria. Vovô Australopithecus africanus foi um dos que abriram caminho, assim como seus “primos” robustus e afarensis e os Homo erectus, habilis… até chegarmos nessa nossa versão sapiens, tudo ainda dentro da mesma raça Humana, sem nossas versões de diferentes etnias, com várias cores, cabelos, traços, idiomas, e jeitos.

Savana, feras, perigos; precisávamos ficar amigos para sobreviver. Solitários não duraríamos muito e o instinto chamava para o gregarismo. Ah, então começamos nos protegendo uns aos outros, na aurora da Humanidade? Só para a caça? Ou coleta? Ou para criar roupas que nos abrigassem das intempéries? Havia competição sim, mas havia cooperação! Muito provavelmente não por ideal, naquela época, mas por necessidade, mas havia. E quando começamos a nos reunir em volta do fogo? A desenhar nas cavernas, a contar histórias, a temer o trovão, a criar instrumentos e utensílios? Quando começamos a aproveitar nosso famoso “polegar opositor” para evoluir? As ramificações dos hominídeos foram muitíssimas, em milhões de anos de aperfeiçoamento, até chegar à versão moderna que conhecemos – Homo sapiens. Retorno aqui à pergunta do artigo anterior: essas diferentes ramificações equivaleriam às nossas atuais etnias? Ou como eram pré Homo sapiens foram experimentações da natureza até chegar à sua própria “melhor adaptação” do gênero Humano, seguindo o conceito de Charles Darwin para as espécies que perduram? Fiquemos com a ideia, por enquanto, que nossos vovôs “pitecos” não eram outras etnias, mas desenhos prévios até chegarmos ao familiar sapiens. Porém, não tiremos o valor de cada uma destas espécies, apenas por serem “desenhos prévios”. Newton e Einstein falaram que chegaram aonde chegaram por estarem em ombros de gigantes (“Se eu vi mais longe, foi por estar sobre ombros de gigantes”, frase anterior até a Newton). Então, cá estamos porque viemos não nos ombros, mas trazidos, embalados cuidadosamente pela História, no colo dos vovôs e vovós pitecos e Homo… Tenhamos nossa gratidão por estes corajosos sobreviventes das savanas (que antes saíram das florestas)! Nos mantiveram vivos! E nem começamos ainda a falar das glaciações…

Mas voltemos à Mama África, afinal este artigo se dedica a falarmos mais do ESPAÇO que do TEMPO, apesar de que o tempo já entrou aqui várias vezes, considerando que nossa primeira origem como hominídeos até a descoberta do fogo muuuuuito tempo transcorreu (levou milhões de anos).

O que havia no Chade (perto do atual deserto do Saara), naquele ponto inicial em que resolvemos começar a saga humana? Tenho uma amiga sul-africana que uma vez abriu os braços na extremidade sul da África do Sul, abraçando todo o continente acima, e isso me deu a dimensão, na imaginação, da grandeza daquele continente – mãe – gerador de humanos. Ela, mesmo sendo africana e já habituada com as dimensões de seu continente natal, se espantava com a imensidão daquela terra. Uma vez, sobrevoando um deserto com solo rachado na África do Sul (eu não sei se era o Kalahari), antes deste momento com ela, me emocionei muito ao pensar nesta terra que nos gerou como espécie.

Paleontólogos, arqueólogos, linguistas, geneticistas, agradeço a vocês por nos levarem a um espaço e a um tempo tão distantes para nos ajudarem a formar esta imagem que veio a nós em partes, como um complexo quebra-cabeça: artefatos em pedaços, ossos, pegadas, carbono, restos de alimentos… pistas de nós mesmos, de nossas origens.

Você, que lê esta reflexão, consegue imaginar boas razões, além da mera curiosidade, de pensarmos em nossas origens (africanas) em meio à crise trágica do coronavírus? Sem diminuir, obviamente, o sofrimento que estamos vivendo JUNTOS agora, pensemos em termos temporais (ok, vou desistir de tentar separar os irmãos TEMPO e ESPAÇO, já que na Terra eles andam de mãos dadas): quantos desafios nossos vovôs passaram para que chegássemos neste ano de 2020, aparentemente um limiar? Limiar entre o quê e o quê? O que antes e o que depois? E onde entram as etnias nesse grandioso e belo espaço África? Calma, assim como precisamos de paciência para superar o coronavírus, tenhamos paciência para chegar às etnias, já que elas não surgiram simplesmente no espaço “brotando” simultaneamente no Alasca, China ou em países da África… mas no tempo, aliás, um loooongo tempo. Para o irmão ESPAÇO não ficar com ciúmes do TEMPO, falemos um pouco então sobre aquela África antiga, pré-histórica, para nossa imaginação se recordar (ops, se conectar) com aquele cenário. Não, melhor, chamemos de LAR! Cenário é bonito, mas nos deixa como espectadores; é mais distante.

Imaginemos então que vivíamos na Mama África há cerca de um milhão de anos. Que solo havia, que pedras, que plantas e árvores? Será que algumas ainda existem? E o ar e a água, como eram? Onde dormíamos? Olhando as estrelas e às vezes em áreas mais protegidas dos animais? Será que a amedrontadora mamba já nos assustava? Que animais dividiam aquele grande habitat conosco? Qual era a temperatura? Quantos graus de diferença em relação a hoje? Meteorologistas que estudam mudanças climáticas, vocês podem nos dar uma mãozinha aqui? Mesmo que individualmente não saibamos tudo (seria impossível), muitas destas respostas cientificamente já existem e integram um conhecimento que é coletivo, pertencente a todos, mesmo que nem sempre acessível. Mas vamos utilizando aqui nossa imaginação para nos conectarmos com aquela África de outrora… Pausa! Respiremos fundo aquela África, nossa mãe. E os sons? Os cheiros? E o gosto daqueles frutos longínquos que eram coletados como o pão nosso de cada dia? Antes mesmo da caça… Será que as crianças já brincavam ou simplesmente sobreviviam? O quanto este espaço foi trazendo “informações” do mundo exterior para dentro de nós, formando o nosso DNA? Não, não só o da Lucy, mas o meu, o seu, o do vizinho amigo e o do vizinho que você não gosta tanto assim. Será que já tínhamos aquela “coisinha” humana chamada livre-arbítrio, que nos diferencia de todas as outras espécies no solo terrestre? Que pode ter dito em um determinado momento: “ei, vamos mudar de lugar pra procurar comida”? Ou como gosto de pensar a respeito dos viajantes…: “ei, o que será que tem pra lá daquele velho amigo baobá”?

Caros amigos leitores, fiquemos com a Mama África mais tempo em nossas mentes e corações, acalentando o bebê humano (que ao mesmo tempo foi nosso vovô/vovó), provavelmente muito inocente que já fomos um dia… É necessário!

Até breve,
HumAna Paula

Obs.: conforme indicado na abertura deste canal, os artigos da coluna DIVERSSOMOS não possuem finalidade científica, não são de teor acadêmico, mesmo que indiquem eventualmente fontes científicas, mas possuem o propósito de gerar reflexões sobre a diversidade étnica humana e propor contribuições para aproximar os leitores da riqueza de aprendizagem possível a partir das diferentes etnias da Terra.

Quer saber mais sobre as etapas evolutivas dos primeiros hominídeos?
http://www2.assis.unesp.br/darwinnobrasil/humanev2a.htm

LEGENDAS:

Foto de cima: Crânios de Australopithecus robustus, em: http://www2.assis.unesp.br/darwinnobrasil/humanev2a.htm

Foto de baixo: Savana africana, em:
https://pt.depositphotos.com/stock-photos/savana-africana.html

Salvo indicado, todos os textos são de autoria de HumAna Paula e podem ser baixados e utilizados sem autorização prévia, desde que na íntegra, para fins educativos e citada a fonte (Humana Paula, no Portal RIC MAIS).

22 maio 2020, às 00h00. Atualizado em: 5 jun 2020 às 12h08.
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