Ethnos, Etnia, Étnico, Etnicidade. QUEM ou O QUÊ são as etnias?
O que são tem a ver com o conceito, a compreensão. Quem são tem a ver, aqui neste olhar, com o coração, outro tipo mais sutil de compreensão. E há ainda, nestes O QUÊ e QUEM, a ação, o fazer; quem/o quê FAZ as etnias serem etnias? Mas é preciso algo ser feito ou as etnias simplesmente são?

Se simplesmente SÃO basta nascer e aí pode vir um olhar Biológico; a etnia tem a ver com o DNA, algo que surge com o nascimento, ou ainda com o Direito – nasceu alguém, esta pessoa já É, existe por si só, per se, e tem o direito a ser ela mesma, incluindo aí o universo do que cada individualidade é, o que também abrange a sua etnia.

A etnia é algo profundo, complexo, vasto… porque reflete a diversidade da espécie/raça humana. Mais conceitos: espécie e raça.

Se há a etnia no FAZER, na ação, isto pode ter a ver com suas manifestações e expressões no mundo, e aí podemos tatear a etnia como cultura, manifestações culturais. Outro conceito envolvido: cultura. A complexidade vai crescendo. Que áreas lidam com cultura? Podemos pensar em Antropologia, Arqueologia, Sociologia e outras áreas humanas do conhecimento. E se este fazer étnico se manifesta no trabalho, na vocação de “fazeres” de alguma região do planeta, diferentes nas regiões X ou Y, podemos convocar a geografia e a economia para participar desta conversa. E os olhares vão se ampliando…

E se o SENTIR em relação à etnia faz nosso coração se apertar ou expandir podemos pensar nas injustiças e voltamos ao Direito ou à Filosofia, que nos inspira a uma verdade mais elevada que a mera sobrevivência. A etnia na sua compreensão mais sutil e subjetiva que é o coração pode nos lembrar também da Arte. O que acontece quando você ouve uma canção em Guarani e mesmo sem entender uma palavra sente que sua alma fica em paz? Ou ao ver uma dança polonesa tradicional e seu corpo é chamado a junto rodopiar? Artes em geral, Linguística, idiomas.

Faço esta rápida navegada a respeito da etnia nos âmbitos do PENSAR, SENTIR e FAZER humanos, reflexão que não é científica e nem de algum autor reconhecido, como uma atitude filosófica minha ao entrar no tema, uma forma de explorar e ampliar possibilidades, chamando vocês (e a mim mesma) para deixar o olhar bem aberto, prestando atenção na vastidão do “tema”, que é, na realidade, muito mais que um “tema”, pois mesmo que quiséssemos apenas estudá-lo e categorizá-lo, ele, o tema, a ETNIA é a própria Vida, o que, de fato, vale para todos os “temas” que estudamos. Bem, voltando deste abre parênteses sobre o alerta para não esfriarmos o conhecimento com categorizações que sejam “coisificações”, lembremos de mais uma razão bem viva e necessária de refletirmos sobre etnias: os conflitos étnicos milenares e sangrentos, que surgiram, muitos deles, lá na aurora da Humanidade e que, em boa parte continuam a existir; estão aí, matando milhões, explodindo milhares, abusando moralmente e intergeracionalmente dos que são da etnia “opositora”. Razões políticas, religiosas, econômicas, culturais? Nada neste mundão de Deus, nesta sociedade, é só uma coisa ou outra, mas e geral são uma coisa E outra. Então, os conflitos étnicos podem ter muitas razões combinadas ao surgirem, se perpetuarem ou se transformarem. Ao se extinguirem certamente deve estar lá o cansaço e a ânsia por paz. Infelizmente não sei dizer qual conflito étnico se extinguiu. Mas talvez alguns já tenham pelo menos abrandado.

Bem, mas isso é também para outro dia; não quero começar nosso espaço falando das dores da ETNIA, mas das cores. Lembram-se do título do 1º artigo, na abertura da coluna na semana passada? Redescobrindo as cores do Planeta!

À medida que fui planejando os artigos que redigirei aqui na coluna a lista de olhares possíveis foi ficando enorme; o tema é infinito, pois assim como isoladamente já há muitíssimas áreas do conhecimento que abordam a diversidade étnica, quando as combinamos entre si e deixamos os assuntos multi, inter e transdisciplinares, o leque vai ficando gigante e não cabe mais na mão. Sim, afinal o leque é composto de 7,8 bilhões de habitantes e suas etnias mescladas, já que há pesquisas científicas que mostram que nos misturamos o suficiente para concluir que não há mais etnias “puras”, mas que há uma raça humana única, e que somos atualmente seres miscigenados. Mas deixemos o leque por enquanto num tamanho que caiba na mão.

Voltando deste novo desvio em nossa trilha… continuemos. Os desvios na trilha, amigos leitores, não são para nos perdermos nas veredas labirínticas da complexidade do assunto ETNIA; são apenas portas e janelas se abrindo para que, juntos, possamos enxergar que não podemos reduzir a etnia a algo que se define rapidamente, que se fecha e que se esvai de modo quase descartável, em falas prontas e taxativas. Há riscos sociais altíssimos em se fazer deste modo, pois um conceito também pode, sem os devidos cuidados, separar, excluir, diminuir e isto é tudo que não precisamos nessa altura da vida humana repleta de andanças pela Terra já há alguns milhões – milhares de anos.
Milhões – milhares de anos?
Andanças pela Terra?

Sim! As outras portas e janelas que abri eu vou fechar e marcar o caminho com pedrinhas de brilhante para voltar a elas mais tarde, outro dia, mas a porta de hoje, na realidade, um portão, ou melhor, um portal, será aberto para nos aquecermos para a longa travessia juntos.

O portal das etnias de hoje é o portal do tempo e espaço. Falei “milhões – milhares de anos” porque podemos começar a falar em SER HUMANO, explorando o seu nascimento. Desde quando o Homem é Homem* – Homo sapiens? O sapiens é relacionado à espécie. Tem a ver com todos da espécie, a Humanidade inteira? Sim. Antes do sapiens eram outras espécies de hominídeos ou já eram todos humanos com diferentes “etnias”? Estou fazendo provocações mentais para vermos que o solo vai ficando menos concreto e palpável à medida que damos a marcha a ré na História e vamos tão longe no tempo. Não chega a ser um terreno pantanoso, pois muito já se descobriu e se caminhou neste sentido. Mas, afinal, se voltarmos o filme da Humanidade no TEMPO (muuuuuito tempo) podemos fazer várias perguntas sobre RAÇA HUMANA e ESPÉCIE HUMANA (espécie é um conceito biológico, que vale inclusive para árvores – A araucária daqui – Araucaria angustifolia – não é a mesma que a araucária de lá – Araucaria araucana, do Chile). E somos hoje todos somente sapiens, não é mesmo? Leonardo Boff, mesmo amando o ser humano, diz que às vezes somos HOMO demens, mas isto também fica para uma próxima… Agora todos da Terra somos sapiens, mas antes fomos outros: erectus, robustus… Só que nem todos foram sequenciais, mas sim simultâneos, ou seja, não fomos apenas uma espécie após a outra, uma se transformando na outra no passar do tempo, mas algumas espécies de hominídeos viveram ao MESMO TEMPO até chegarmos na espécie sapiens tal qual a conhecemos atualmente, que define a raça humana.
Ufa, pausa!

Diacho!!! E como fica então a bendita ETNIA neste transcorrer do tempo longínquo? Vocês acham que vou resolver essa curiosidade hoje? Não, não se animem! Temos que deixar essas imagens, conceitos e perguntas flutuando mais tempo em nossas mentes.

Certo, ok! Demos um passinho pequeno e tímido para lá do portal do TEMPO humano. Sim, pequeno, pois lembrem-se da humildade que falei no primeiro artigo… Vou chamar pessoas que mergulham nestas pesquisas para me ajudar nesta tarefa! E humildade também em relação aos ancestrais e ao próprio tempo. “Tempo, tempo, tempo”, diz uma canção de Caetano Veloso. Milhões de anos de história e VIDA humana (e de todas as outras espécies) é algo para se contemplar com devoção e respeito. Nosso trocentésimo avô Australopithecus robustus (paleontólogos, os australopithecus são nossos avós ou estão em alguma bifurcação genética?) não gostaria que simplesmente olhássemos rapidinho seu crânio e fôssemos correndo para visitar o Homo habilis, não é mesmo? Cada um é cada um e merece a nossa atenção!

E o ESPAÇO? Bem, desde que o Homem é Homem, sim, desde milhões de anos atrás que já usamos nossas pernocas para caminhar pelo globo, nos mudando para áreas mais férteis em alimentos ou para ficarmos mais protegidos das intempéries… Razões estas ligadas à sobrevivência (será que já existiam nessa época, entre os que viajavam para o sustento, aqueles que viajavam por viajar, simplesmente de curiosidade de desbravar o desconhecido?). Ou seja, o Homo sapiens migrava, se movia, saía do seu lugar de origem e ia para outro. Será que aí começaram as etnias, devido a razões climáticas, geográficas? É então algo biológico, genético, ligado a adaptações a calor, frio, vento, mar ou terra?
Nada disso se deu em dezenas de anos, mas como sabem, milhões-milhares de anos…

E aí o portal se fecha para continuarmos no próximo capítulo estas indagações sobre a saga humana e suas etnias. E por enquanto, fiquemos com estas imagens do ser humano se transformando no tempo e no espaço… isso pode muito nos inspirar nesta jornada!

Até breve,
HumAna Paula

*Por questões de tamanho e fluência de texto, utilizei no decorrer deste artigo o vocábulo “Homem”, no masculino, para tratar do gênero humano como um todo, pois é o mais comumente utilizado e facilita a compreensão. Em outras oportunidades mais adiante procurarei usar terminologias que incluam o gênero feminino também, como já se utiliza em artigos da Sociologia, por exemplo.

Obs.1: conforme indicado na abertura deste canal, os artigos da coluna DIVERSSOMOS não possuem finalidade científica, não são de teor acadêmico, mesmo que indiquem eventualmente fontes científicas, mas possuem o propósito de gerar reflexões sobre a diversidade étnica humana e propor contribuições para aproximar os leitores da riqueza de aprendizagem possível a partir das diferentes etnias da Terra.

Quer saber mais sobre as etapas evolutivas dos primeiros hominídeos?
http://www2.assis.unesp.br/darwinnobrasil/humanev2a.htm

LEGENDAS:

Foto da esquerda: Homo erectus, em Science Photo Library, em https://www.bbc.com/portuguese/geral-50850119

Foto da direita: Mulher dos Estados Unidos (Montana), em: https://nationalgeographic.sapo.pt/historia/grandes-reportagens/2290-que-historias-contam-as-nossas-imagens-de-arquivo-sobre-a-vida-das-mulheres#&gid=1&pid=17

Salvo indicado, todos os textos são de autoria de HumAna Paula e podem ser baixados e utilizados sem autorização prévia, desde que na íntegra, para fins educativos e citada a fonte (Humana Paula, no Portal RIC MAIS).

14 maio 2020, às 00h00. Atualizado em: 5 jun 2020 às 12h09.
Mostrar próximo post
Carregando