A produção de arte e cultura tem enfrentado dificuldades nos últimos anos no país. Se, por um lado, o fortalecimento do trabalho de investigação e pesquisa de linguagens criou resistência nos artistas brasileiros, por outro, a falta de incentivo e de políticas públicas eficientes na área têm sido obstáculos para a produção e circulação de peças de teatro, shows, exposições. O processo de criação artística está cada vez mais curto devido aos poucos recursos para manter a equipe em trabalho contínuo, assim como os espetáculos que, depois de prontos, também ficam menos tempo em temporada.

É certo que a cultura nunca foi uma das prioridades no cenário sociopolítico brasileiro. Porém, nos últimos 10 anos, produzir tem sido cada vez mais difícil. Artistas e produtores reclamam da falta de investimento na área, o que é cruel não apenas para a classe artística mas para toda a população.

Incentivar de forma sistemática e intrínseca o relacionamento do público com a arte por meio do incentivo ao consumo de bens culturais produzidos, estimular a produção local, criar ações que promovam o diálogo entre artistas, produtores, comunidade e o poder público, estão entre as alternativas para a mudança desse panorama. É preciso a população, em diferentes esferas, tenha consciência da importância da arte e da cultura. É o que explica a produtora cultural Geane Saggioratto:

A existência de políticas públicas que possam estreitar essa relação entre a classe artística a demanda que vem da iniciativa privada, seria um grande passo para a produção cultural brasileira. É necessário que o empresário saiba dos benefícios da logomarca da empresa inserida nos produtos culturais tanto para o fortalecimento da marca quanto para as questões social e educacional. O empresário muitas vezes não tem essa consciência e também não existe essa consciência do poder público”, afirma.

As leis de incentivo atualmente são os principais meios de financiamento de produtos culturais no Brasil. Elas funcionam pelo modo de repasse de verbas, ou seja, o governo abre mão de uma parte do imposto recolhido pelas empresas e pessoas físicas para que possa ser destinado a um projeto cultural.  Porém essa medida não é suficiente para a eficiência da democratização da cultura no país. Isso porque o empresário normalmente tem um olhar para a cultura pasteurizada:

Muitas vezes os projetos não são escolhidos pelo viés artístico ou pelos benefícios que levarão à população. Essa é uma situação desfavorável porque a produção cultural fica na mão do empresário, ou seja, o empresário acaba escolhendo o que o povo terá acesso e normalmente os projetos escolhidos são voltados ao entretenimento e não à cultura”, explica Saggioratto.

Outra dificuldade enfrentada pelos artistas, sobretudo aqueles que apostam nas produções de qualidade artística é a circulação. Muitas vezes, as obras permanecem em breve temporada nas suas respectivas cidades e, depois, não seguem para outras partes do Estado ou do país. Esse talvez seja o principal desafio dos artistas de hoje:  como distribuir o bem cultural? Como fazê-lo chegar nas comunidades, sobretudo aos pequenos municípios? Com o desenvolvimento de políticas públicas eficientes!

É verdade que a cultura sofre altos e baixos ao longo dos anos, pois na maioria das vezes está veiculada ao poder público. Mas estamos em um momento delicado, de extinção do Ministério da Cultura, extinção de secretarias estaduais, extinção de programas jornalísticos segmentados para a divulgação da arte e da cultura no país. Existe também uma ausência de ações voltadas às cidades pequenas e é preciso olhar também para esses municípios. Mas isso só será possível com o fortalecimento da consciência sobre a importância da cultura para a transformação social. E ao que parece, estamos ficando cada vez mais longe disso.

 

14 fev 2020, às 00h00. Atualizado em: 3 jun 2020 às 16h36.
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