Cotação: ★★★★

Filmes de terror e suspense sempre tiveram boa popularidade justamente por lidar com a nossa mais primária, básica e absoluta das emoções. Segundo Aristóteles, o medo é justamente o que nós sentimos quando antecipamos a presença do mal. Por isso, obras com esta temática nos excitam tanto. Por estarmos em ambiente seguro e controlado (como a sala do cinema ou a nossa casa), vivemos este medo com o máximo de intensidade justamente para saber que ele acabou logo depois, junto com a história exibida. É a catarse pelo exorcismo.

Dentro de toda esta recente leva de filmes do gênero com sucesso de público e crítica, um dos mais badalados e comentados foi a nova adaptação cinematográfica de um dos grandes sucessos literários criados por Stephen King. Em 2017, It – A Coisa trouxe de volta às telas o perverso Pennywise para atrair e aterrorizar um grupo de amigos adolescentes em uma pequena cidade dos Estados Unidos. O maléfico palhaço atua justamente fazendo suas vítimas sentirem medo de alguma coisa perturbadora vivenciada por elas. Assim, tornou-se o mais aterrorizante vilão dos últimos tempos, capaz de render um total mundial de bilheteria (700 milhões de dólares) vinte vezes maior do que a estimativa de seu orçamento final. E como em Hollywood nenhum sucesso de público passa impunemente sem uma sequência nada tardia, eis que chega aos cinemas hoje – exatamente dois anos depois, o que no Brasil vem bem a calhar, já que aproveita o fim de semana do feriado de 7 de setembro – It: Capítulo 2.

O novo filme não só retoma os mesmos personagens de dois anos atrás e o mesmo diretor (o argentino Andy Muschietti) como, desta vez, ainda adota a mesma base de enredo do livro. Passados vinte e sete anos, a cidade de Derry volta a ser abalada por uma onda de cruéis assassinatos. Os sete garotos da primeira história cresceram, quase todos mudaram-se para outros locais, mas de uma certa forma continuam sendo os mesmos losers do Clube dos Losers em sua trajetória adulta pessoal e profissional. Agora cinco deles voltam ao local de sua adolescência chamados com urgência pelo único que ficou por lá – apenas um não retorna à cidade. A missão é combater novamente “A Coisa” antes que mais tragédias ocorram.

Nisto tudo se passam quase três horas, entre flashbacks e narrativas presentes frequentemente intercaladas para o espectador. O foco maior fica por conta da ruivinha Beverly Marsh (interpretada em sua fase adulta por Jessica Chastain), o escritor Bill Denbrough (James McAvoy) e o roteirista Richie Tozier (Bill Hader). Neste conjunto de vai-e-vem temporal muita conexão entre o ontem e o hoje é feita para que quem esteja vendo entenda melhor os dilemas dos personagens e os seus significados perante o confronto com o palhaço dos balões vermelhos. Por isso o tempo do segundo filme é extenso demais. Até desenvolver a reunião do grupo de amigos, as particularidades de cada um deles e, por fim, o ato conclusivo, que mostra o auge da luta contra a grande assombração de Derry.

Mas se a duração é cansativa, há outros trunfos no filme. A montagem, em determinados momentos, faz o link entre uma cena e outra brincando com sutileza e encantamento com alguns elementos gráficos para fazer a transposição visual. Tal qual o It anterior, aqui Muschietti também se mostra bastante hábil ao equilibrar medo e alívio, sucedendo, volta e meia, um susto com uma tirada cômica ou vice-versa. E o roteiro, de novo assinado por Gary Dauberman (também responsável pela série Annabellee por A Freira) é um delicioso convite à nostalgia da sessão pipoca instaurada pelos filmes teenagersde aventura dos anos 1980 – como Goonies, E.T – O Extraterrestre e Conta Comigo – só que com os efeitos especiais mais apurados por conta da existência de CGI.

A combinação entre a trama concebida lá no início dos anos 1980 por Stephen King (que escreveu It entre entre 1981 e 1985 e publicou em 1986), as imagens fantasmagóricas obtidas via computação gráfica, uma afinada e competente parceria entre roteirista e diretor e mais uma série de bons atores (vale destacar ainda o brilho de Bill Skarsgård como Pennywise mais Sophia Lillis, Jack Dylan Grazer e Finn Wolfhard no núcleo teen) pode fazer a audiência passar quase três horas flutuando entre o prazer e o pavor na poltrona do cinema. Portanto, é sempre bom pensar duas vezes antes de querer voltar a se lembrar de tudo aquilo do que você sentia medo durante a infância e a adolescência.

It: Capítulo Dois (It: Chapter Two, EUA/Canadá/Argentina, 2019). Direção: Andy Muschietti.  Roteiro: Gary Dauberman. Com Jessica Chastain, Kames McAvoy, Bill Hader, Isaiah Mustafa, Jay Ryan, James Ransone, Andy Bean, Bill Skarsgård, Jaeden Marten, Wyatt Oleff, Jack Dylan Grazer, Finn Wolfhard, Sophie Lillis, Chosen Jacobs, Jeremy Ray Taylor, Teach Grant. 169 minutos. Warner. Estreia nos cinemas brasileiros: 5 de setembro de 2019.

5 set 2019, às 00h00.
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