Até o começo do ano, a grande preocupação dos empresários era a crise econômica gerada pela Covid-19. Mas uma pesquisa do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), “Impacto da Pandemia de Coronavírus nos Pequenos Negócios”, revelou que o “fantasma” agora é outro: os custos do negócio. O aumento dos preços dos combustíveis é um deles, já que causa uma reação em cadeia em todos os insumos. Mas tem micro, pequenos e médios empresários que encontraram na tecnologia formas de driblar a crise e até lucrar numa época em que tudo ficou mais caro.

É o caso do Renato Alves Bezerra, sócio proprietário de dois restaurantes em Curitiba, o Santigusta. Uma das grandes “dores” do seu negócio eram os fornecedores de alimentos. Eram horas longe do restaurante fazendo compras, indo de um canto a outro escolhendo frutas, verduras, entre outros alimentos, gastando combustível e ficando longe da gestão da empresa. Sem contar a necessidade de ter também alguém sempre no restaurante, aguardando os fornecedores que chegavam com entregas, a preços de frete proibitivos.

A gestão de compras do Renato mudou quando ele encontrou um aplicativo, o Frubana, que é praticamente igual aos que aprendemos a usar na pandemia para fazer mercado. A plataforma também é um “supermercado online”, porém fornece alimentos para restaurantes e pequenos mercados. O Renato reduziu de 20 para um fornecedor e não se ausenta mais do negócio por tanto tempo. Faz o pedido e recebe no dia seguinte, no horário que escolhe, entregue de Uber, por um frete bem menor.

Queda nos custos

Para Renato, a mudança na forma de abastecer o restaurante não teve nenhum custo. Ele só se cadastrou na plataforma e passou a comprar nela. E o impacto no lucro chegou de forma imediata e direta: ele está economizando cerca de 10% a 15% na compra dos insumos. Há produtos, diz ele, que chegam a ser 40% mais baratos na plataforma do que com os antigos fornecedores. Isso tem ajudado o restaurante a passar pela crise.

“É uma época complicada devido à inflação. A diferença de preços conseguida pelo aplicativo poderia ir direto para o lucro, ou em redução no preço final ao cliente. Mas como está difícil enfrentar a inflação, pelo menos estamos conseguindo segurar o repasse da alta dos preços. O cliente não teve aumento”,

diz Renato.

Mas o uso da tecnologia ainda ajudou o negócio de outras formas. A primeira é o desperdício zero. Verduras e legumes vindos da Ceasa sempre tinham descarte, pois havia produtos quase podres ou feios, que não podem ser colocados no buffet. Ou então, produtos muito sujos de terra, que exigiam longos procedimentos de limpeza e higienização. “Agora parece que estamos fazendo compra de mercado. Que a gente foi lá e escolheu um a um. Vem tudo embalado, limpo”, analisou o empresário.

E a mudança refletiu nos olhos e nos pratos dos clientes. A bancária Alessandra Rinaldi, que almoça quatro vezes por semana no Santigusta, notou a mudança.

Alessandra Rinaldi, cliente do restaurante, percebeu a diferença na qualidade dos legumes e verduras no buffet, sem saber que foram gerados pelo uso da tecnologia. (Foto: Giselle Ulbrich / RIC Mais)

“Eu consumo muitas verduras e legumes. Metade do meu prato vem só com isso. E eu notei mais variedade no buffet nas últimas semanas, coisas diferentes que não tinha antes, como aqueles milhos miniatura, broto de girassol. O brócoli tem vindo mais verdinho, a escarola mais vistosa, a beringela também mais bonita, aipim e batata salsa mais macios, o tomate mais maduro, pois que já vi tomate verde no buffet. Tenho percebido alguma mudança nos alimentos”,

disse a bancária, sem saber o motivo da melhoria.

Uma simples mudança de adotar uma tecnologia, sem nenhum custo extra, que levou o empresário a promover outras mudanças na operação.

“Agora que os funcionários ficam mais tempo “ociosos”, já que não precisam mais receber fornecedor e gastar tanto tempo na limpeza dos alimentos, tenho investido em treinamento com eles. Nós já operamos o iFood no almoço. Mesmo não abrindo o buffet no jantar, vamos começar a operar iFood à noite também. Tem sobrado tempo para deixar os funcionários mais focados nessa nova tarefa”,

analisou o empresário.

Tecnologia como aliada

O aplicativo não foi a única tecnologia que Renato inseriu no negócio. Ao longo dos anos, foi adotando outras facilidades que mudaram (e facilitaram) a rotina e ampliaram a produtividade. Bárbara, esposa dele, que cuida do caixa, agora tem um sistema de vendas que, com um só aperto de botão, consegue fechar a contabilidade do dia. Não precisa mais ficar até o fim da tarde contando papéis, calculando e recontando estoque para ver o que foi vendido e o que ficou. O casal adotou outras tecnologias de gestão que hoje permitem controlar tudo até mesmo viajando fora da cidade.

“No começo, por ignorância mesmo, a gente tinha um pouco de resistência de aderir ao Frubana. Cada nova digitalização que a empresa teve nos últimos anos, a gente tinha medo de ficar sem suporte. Mas todas valeram a pena. Essa última foi como a revolução táxi x Uber pra nós”,

analisa Renato.
“Plataforma surgiu de uma ideia muito simples. E é gratificante saber que o seu negócio ajuda a desenvolver outros”, diz Breno Lopes, da Frubana.

A força dos pequenos negócios

Conforme dados do Sebrae, as micro e pequenas empresas respondem por 99% das empresas brasileiras (no Paraná elas são 93%), mais de 55% dos empregos formais e 30% do PIB brasileiro. Breno Lopes é o diretor geral da Frubana. Ele comenta o caso do Renato, mostrando que 70 a 75% dos restaurantes no Brasil são pequenas e médias empresas, que são as que mais sofrem com as “turbulências” da economia.

“Quando você encontra uma tecnologia como o Frubana, a condição de lucro do restaurante melhora, porque se compra mais barato, paga menos frete e aumenta a margem de lucro. Veja, as melhores ideias são as mais simples. Assim surgiu a plataforma, de uma ideia simples. E é gratificante saber que o seu negócio está ajudando outros a se desenvolver”,

orgulha-se Breno.

Sua empresa já é 4.0?

“Quem já começa um negócio sem adotar tecnologia, já entra defasado no mercado. Digitalizar a micro e pequena empresa já não é mais um diferencial, é uma necessidade”,

aponta Marcela Milano, consultora do Sebrae-PR, explicando ainda que negócio digital (como uma loja online, por exemplo) e ferramentas digitais presentes no negócio (como o restaurante do Renato) são duas coisas bem diferentes.

Mas independente do tipo da empresa, hoje todas já são obrigadas e entrar de cabeça na tecnologia 4.0 ou seja, associar o uso da tecnologia em todos os processos . Seja desde o simples uso do Whats App para conversar com fornecedores e clientes, quanto o uso de softwares gerenciais, vendas ou relacionamento com clientes.

A consultora mostra que são infinitos os recursos digitais existentes para ajudar na gestão, de simples a muito completos, de gratuitos a pagos. E as tecnologias podem estar presentes em todos os setores: plataformas de comunicação entre os funcionários/times, ferramentas de gerenciamento de projetos, gestão de funcionários (folha de pagamentos e banco de horas), gestão financeira e fluxo de caixa, entre muitos outros.

Um exemplo de tecnologia fácil dado por Marcela, e que foi uma revolução em muitas empresas, é o Contabilizei, uma plataforma de contabilidade que o empresário insere os dados e notas fiscais, de forma bem intuitiva e, num clique, tem a contabilidade pronta. Pode até declarar o imposto de renda em poucos passos, já que as informações da empresa já estão todas lá.

Já existem até empresas vendendo imóveis no metaverso. Será que esta será a fase “pós-digitalização” das empresas? (Foto: Divulgação)

Qual será o futuro da revolução 4.0? O metaverso?

Já é sabido que a pandemia acelerou em dois anos o processo de digitalização das empresas, que era para acontecer só pelos próximos cinco a 10 anos. A necessidade de conversar online com todos os stakeholders (públicos) de uma empresa trouxe a necessidade de digitalizar toda a comunicação e processos, para que todos pudessem se entender à distância.

A pesquisa “Impacto da Pandemia de Coronavírus nos Pequenos Negócios”, do Sebrae, mostrou que, na pandemia, os pequenos empresários do Paraná encontraram nas redes sociais um novo canal de vendas. No total, 65% dos entrevistados realizavam vendas pelas redes sociais, como Facebook Instagram, Whatsapp por exemplo. No Brasil, o percentual é ainda maior: 71% dos entrevistados vendem pelas redes. Sem contar as demais ferramentas digitais adotadas.

Mas agora que as empresas já estão “online”, o que deve acontecer daqui para frente? Qual será o futuro da tecnologia nas organizações? Será entrar no Metaverso?

Marcela Milano, consultora do Sebrae, acredita que ainda é cedo para se afirmar que o metaverso é o próximo passo do pós-digital nas empresas. “É preciso entender se é algo passageiro, ou se o metaverso vem pra ficar. Ainda é preciso observar o desenvolvimento disso”, analisa ela.

Mas o que Marcela dá como certo é que as empresas precisam continuar visando a digitalização, seja a adotando da primeira vez, ou aprimorando as ferramentas que já possui. Como a pandemia acelerou esse processo, muitas boas ferramentas ainda devem surgir para aperfeiçoar a gestão. Mas a consultora alerta que o empresário deve escolher muito bem a ferramenta que irá usar. Ela tem que ser boa para o negócio, se encaixar com os processos da empresa. Por isto, é preciso ser bem estudada e, se possível, testada gratuitamente antes de ser adotada.

“O digital está presente nas vendas e na divulgação de maneira cada vez mais forte, mais direta. O maior fluxo de vendas está cada vez mais ocorrendo online, e não no presencial. Mesmo as cidades pequenas, os produtos de público muito específico, os artesanatos feitos à mão. Não significa que não podem ser vendidos pela internet. E tudo está cada vez mais nas redes sociais, nos sites. E o atendimento ao cliente, que também passou a ser online, precisa ser rápido e efetivo. Na maioria das vezes são recursos que não precisam de muito investimento e fazem grande diferença na venda”,

ensina a consultora.

29 jun 2022, às 22h45.
Mostrar próximo post
Carregando