Por José de Castro

SÃO PAULO (Reuters) – O movimento de compra de dólar visto ao longo deste ano deve perdurar, uma vez que vários eventos de risco se acumulam, entre eles a expectativa pela eleição presidencial de 2022 e pela redução de estímulos nos Estados Unidos, disse Fabio Zenaro, diretor de Produtos de Balcão e Novos Negócios da B3, após dados mostrarem saldo líquido de compra de mais de 29 bilhões de dólares de janeiro e julho no mercado de NDF.

Os números, disponibilizados pela B3 a pedido da Reuters, revelam uma demanda crescente pela moeda norte-americana desde o começo do ano, que se acentuou a partir de março/abril. O saldo acumulado no ano de compras líquidas de moeda pulou de 3,2 bilhões de dólares em fevereiro para 6,7 bilhões de dólares em março e voltou a dobrar em abril, para 12,3 bilhões de dólares.

As compras líquidas seguiram em crescimento exponencial até alcançarem 29,4 bilhões de dólares no acumulado até julho.

Nos sete primeiros meses de 2020, o saldo fora de venda de 9,2 bilhões de dólares. No mesmo intervalo de 2019, as compras líquidas somaram 16,7 bilhões de dólares.

Os dados se referem a operações no mercado de contratos a termo sem entrega física (NDF, na sigla em inglês) negociados na B3. Os volumes vêm de empresas de comércio exterior, importadoras e exportadoras, que buscam travar uma taxa de câmbio para se protegerem de oscilações bruscas na divisa no intervalo entre o fechamento da operação de comércio e a liquidação dos pagamentos.

“A gente até está andando com a vacinação, mas de toda forma a pandemia ainda é uma questão –aqui e no mundo–, e ainda temos as nossas questões internas aqui –discussão de situação política, dúvida sobre o equilíbrio fiscal. Isso traz um imponderável que… não deixa o pessoal ter uma ideia de que daqui o movimento do dólar é para baixo”, afirmou Zenaro.

“Quando você tem essa dúvida você mantém esse movimento comprador bem persistente. E quando você lembra que ano que vem é eleição então vem um pensamento de que parece que não será muito diferente ano que vem (o movimento de compras de dólar)”, completou.

Segundo o executivo, não há uma visão “consistente” de um cenário de alívio do dólar que leve os compradores (empresas importadoras) a “tirar um pouco o pé” da tomada de “hedge”.

Os dados da B3 mostram uma aceleração visível na demanda por dólares pelas empresas de comércio exterior nos primeiros sete meses do ano sobre o mesmo período de 2020, quando o saldo líquido era de venda de 9,2 bilhões de dólares.

Curiosamente, houve uma disparada nas vendas de dólares via NDF em março do ano passado: o saldo no mês foi de 13,7 bilhões de dólares em vendas. Março de 2020 é considerado por investidores como o ponto de partida do hecatombe causado pela pandemia de Covid-19 e que fez os mercados globais mergulharem em velocidade poucas vezes vista.

O dólar à vista voou 15,92% em março de 2020, maior alta em quase uma década. Nos meses seguintes até julho as vendas perderam força, e os saldos mensais voltaram a ficar líquidos na ponta de compra entre maio e julho, embora no acumulado dos sete primeiros meses do ano as vendas ainda tenham predominado.

“Houve uma explosão de venda de dólar naquele momento porque o dólar subiu muito rápido, e o vendedor achou que poderia estar havendo algum exagero; portanto, entrou no mercado. Posteriormente, os saldos voltaram a níveis mais normais”, afirmou Zenaro.

Com o dólar frustrando expectativas e permanecendo nas alturas, as compras retornaram com força, sobretudo no último trimestre, com saldo acumulado de compra de 15 bilhões de dólares. A tendência se manteve no começo de 2021 e acelerou de fevereiro a maio, quando o mercado esteve envolto no recrudescimento de riscos fiscais domésticos em meio à discussão do Orçamento. Em março deste ano, a cotação beirou 5,90 reais.

“O momento em que a gente está é de muita instabilidade, muita incerteza… O comprador de dólar não fica à mercê de ficar torcendo para que a moeda não suba”, afirmou Zenaro. “A gente tem vários fatores aqui que levam a uma incerteza grande com relação ao câmbio nos próximos meses, daí a presença forte do comprador de maneira consistente.”

Entre a mínima de junho (abaixo de 4,90 reais) e a máxima desta quinta (acima de 5,46 reais), o dólar futuro dispara 11,6%. No acumulado de 2021, sobe 4,3%, depois de quatro anos consecutivos de valorização.

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19 ago 2021, às 14h25. Atualizado às 14h30.

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