Por Marcela Ayres

BRASÍLIA (Reuters) – Um mercado de câmbio sem intervenção do Banco Central é sempre melhor, mas a autoridade monetária voltou a marcar presença em meio à saída expressiva de dólares do país desde o fim do último mês, afirmou o diretor de Política Monetária da autarquia, Bruno Serra.

“O Banco Central está intervindo, a gente já vendeu 3,5 bilhões de dólares desde o último dia do mês de setembro. Foi período que teve saída concentrada grande, mercado claramente teve dificuldade de digerir esse risco cambial da saída e o Banco Central voltou a estar presente”, disse ele.

“É sempre melhor o mercado funcionar sozinho, sem precisar (do BC). Mas assim, até os volumes vendidos e inclusive os últimos dias mostram que a gente está atento, é função do Banco Central prezar pelo bom funcionamento do mercado de câmbio e assim temos feito”, complementou.

Em evento promovido pela gestora Upon Global, ele destacou que o BC esteve “bastante presente” no mercado em todo o ano de 2020 até março deste ano, mantendo o câmbio “sempre funcional”.

Serra disse ainda que o BC tem estoque “bastante confortável” de reservas internacionais que ampara sua capacidade de intervenção no câmbio. Desde a pandemia, o BC vendeu cerca de 75 bilhões de dólares, afirmou ele.

“Não importa muito a razão, se a gente identificar um mercado de câmbio com funcionamento não adequado, mau funcionamento, a gente tem que atuar, está no nosso mandato”, ressaltou o diretor.

Um movimento de venda de dólares ganhou força no mercado logo no começo das falas do diretor do BC sobre câmbio. A queda se intensificou rapidamente, e o dólar tocou a mínima do dia de 5,4344 reais (-1,48%) no fim da manhã, depois de superar 5,50 reais na máxima do pregão.

O real tem o melhor desempenho nesta sexta entre 33 pares do dólar. Às 11h44, o dólar caía 1,26%, a 5,44 reais.

Ainda sobre o câmbio, Serra reconheceu que o país trabalhou com nível de diferencial de juros “muito baixo” durante a pandemia, mas afirmou que o ajuste agora tem sido feito “muito rápido”, em referência ao ciclo de aperto da Selic, e que a expectativa é que o câmbio aos poucos reaja a esse processo.

Ele afirmou que o desafio fiscal que o Brasil tem pela frente tem influenciado o câmbio, mas que uma sinalização boa nesse front fará o dólar perder força frente ao real, com o câmbio voltando a responder ao diferencial de juros.

Segundo Serra, a redução do endividamento externo pelas empresas tem ocorrido nos últimos anos –outra variável a impactar o câmbio–, mas esse processo tem data para acabar. Ele pontuou que a indicação recebida pelo BC das empresas é que isso deve ser revertido no ano que vem.

“Esses dólares voltam a entrar para Brasil, irrigando mercado local”, disse ele, estimando que cerca de 20 bilhões de dólares ao ano deixaram de ingressar nos últimos dois anos.

Serra lembrou ainda que a demanda por dólares em função do desmonte do overhedge pelos bancos também terminará este ano, ajudando a sustentar a expectativa de um mercado de câmbio mais líquido em 2022.

“Isso é um ajuste que custa”, disse. “A gente tinha um sistema que tinha entre 40 e 50 bilhões de dólares, dependendo da data, de excesso de hedge por conta dessas assimetrias tributárias.”

O diretor afirmou que, na vigência dessas assimetrias, havia “problema grande” no sistema financeiro toda a vez que a volatilidade aumentava.

“O fato é que se ele (banco) limpar isso, a gente não tem problema para frente. Mas enquanto você está limpando isso, é uma demanda adicional num período que já não foi um período fácil, de 40, 50 bilhões de dólares. A limpeza disso termina agora no dia 31 de dezembro de 2021”, frisou.

POLÍTICA MONETÁRIA

Ecoando falas recentes de outras autoridades do BC, Serra repetiu nesta manhã que o BC não tem compromisso com qualquer ritmo em seu ciclo de alta na Selic, mas que viu a elevação em 1 ponto como adequada para entregar a inflação na meta em 2022.

O BC tem dado indicações de que prosseguirá com este ritmo de alta nos juros em sua próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que acontece no fim deste mês. Desde março, quando iniciou o ciclo de aperto, o BC já subiu a Selic em 4,25 pontos, ao patamar atual de 6,25% ao ano.

A sinalização da autoridade monetária é de que será necessário levar a taxa de juros para patamar “significativamente contracionista” –que atua no sentido de desaquecer a economia– para domar as persistentes pressões inflacionárias.

“Não tem compromisso com qualquer ritmo de alta de juros, nem maior, nem menor”, disse Serra.

“O que o Banco Central enxergou na última reunião foi de que não era necessário aceleração de ritmo de alta de juros para entregar o centro da meta, levando em conta o balanço de riscos, em 2022 e 2023”, acrescentou.

Em relação à agenda do governo, Serra disse que o que faz mais diferença para a condução da política monetária é o controle dos gastos públicos, destacando ainda que a aprovação da regra do teto de gastos foi decisiva para que o Brasil deixasse de ser país com juros nominais de dois dígitos.

(Por Marcela Ayres, com reportagem adicional de José de Castro)

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15 out 2021, às 12h21. Atualizado às 12h25.
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