Não é de hoje e nem por mera coincidência que cantores negros se destacam com sua voz, letras musicais e performance nos palcos. No Brasil, temos grandes nomes como: Alcione, Sandra de Sá, Dona Ivone Lara, Milton Nascimento, Jorge Aragão, Gilberto Gil, Martinho da Vila, Djavan, Seu Jorge, Iza, Ludmilla, Baco Exu do Blues e Liniker.

Resgatando a ancestralidade e trazendo influências internacionais, esses artistas – e muitos outros – abrem caminhos dentro da cena cultural do país. Curitiba é um grande polo de talentos, que o mundo precisa conhecer. Desta forma, o RIC Mais preparou uma lista com alguns dos músicos que vivem na cidade e participam do cenário cultural da região. Confira!

Siamese

Siamese (Foto: Willian Klimpe)

Siamese é uma multiartista trans não binária, cantora, compositora, coreógrafa e produtora cênica. Natural da cidade de Andirá-PR, ela abrilhanta a cena cultural de Curitiba. “Nos meus trabalhos eu busco trazer vivências e sentimentos que atravessam meu corpo e cotidiano”, afirma. 

Os EP ‘s “Som do Grave” e “Overdose” e singles como  “Vibração” e “FOGOSA 2.2”, fazem parte do repertório da cantora. 

“Meu maior propósito é, através da minha arte, transmitir uma mensagem de auto aceitação, respeito e diversidade, e que com isso as pessoas possam ter um novo olhar uns sobre os outros, sem preconceitos costumeiros”,

conta Siamese.

A cantora não deixa de falar sobre os desafios que enfrenta como uma artista trans e preta. “Com certeza isso influencia na forma como a sociedade recebe o meu trabalho”, relata.

“Desde o meu primeiro lançamento busco trabalhar e dar o protagonismo a pessoas pretas, mulheres e LGBTQIA+. Produzir com quem a gente se identifica e acredita, torna o ambiente mais acolhedor. Acredito que quando temos o poder de escolha devemos fazer parte de mudanças necessárias para uma sociedade mais plural e livre de preconceito”,

diz a cantora.

Em agosto Siamese lança a música “HIPNOTIZAR”. “É um R&B e nela eu mostro um lado mais sensual e sedutor, é mais uma faceta que me sinto pronta em compartilhar com o mundo”, declara.  

Adrielly Faria

Adrielly Faria (Foto: Layane)

Adrielly Faria é uma potência da cena curitibana. A cantora, compositora e instrumentista sabe exatamente o que quer passar com a sua música. “Eu quero que as pessoas sintam, eu quero que as pessoas se olhem, eu quero que as pessoas se reconheçam”, afirma.

Este ano, Adrielly lançou seu primeiro single do Spotify chamado “Prê”. Além disso, a cantora tem um canal no Youtube com algumas de suas composições.

“Eu canto sobre amar mulheres pretas, sobre ser essa mulher e amar essa mulher, sobre as minhas vivências em relação a minha sexualidade, sobre a convivência com a minha família, sobre essa solidão e sobre esse amor. Eu gosto muito de falar sobre o amor”,

diz Adrielly.

A cantora traz muitas referências consigo: Ellen Oléria, Mahmundi, Ludmilla, Luedji Luna, Ivison. “A cada dia eu vou construindo um pouquinho mais de referência”, contou.

A artista também fez uma participação no clipe da música “Algum Ritmo” de Gilsons e Jovem Dionísio.

Samuca

Samuca (Foto: Wendy Hambidge)

Músico, fashion style, dançarino e produtor de audiovisual. “Salve, Samuca!” é o vulgo das ruas, como ele mesmo se apresenta. Desde o momento em que se posiciona no palco, Samuca, que tem 25 anos, fala de suas raízes.

O artista é dono de singles como “Pau Brasil”, “Se eu Broto” e “Fui Num Baile Charme”. Seu próximo lançamento será o disco “Aqui Ninguém Passa Vontade”, que segundo ele é uma injeção de energia e motivação. 

A mensagem que Samuca deseja passar com suas músicas é poder. Conforme o artista, ela deve ser “um hino de autoestima”. 

O artista conta que a dança chegou primeiro, através do hip hop, logo depois o rap – estilo musical dele – e a moda. Para ele, a moda é o abre-alas, é como você chega. 

“A moda para mim é muito importante, está diretamente associada ao lance de camuflagem, estar bem vestido para mim, inicialmente, era um lance de estar mais protegido e hoje tem a ver estar bem comigo mesmo, estar bonito para mim e me sentir belo”,

afirma.

Samuca também está para lançar o filme “Fone de Ouvido”, que fala sobre a importância de jovens negros estarem em espaços que discutem políticas públicas. 

Lulo

Lulo (Foto: Faraoh Records)

O Lulo é um rapper, de 25 anos, que se vê na missão de usar a música para fazer um resgate ancestral. “Quero exaltar nossos antepassados e recuperar tudo que nos foi tirado, inclusive a identidade”, diz.

“Vitória”, “Me Ache” e “Abater”, são alguns de seus singles. Sua música carrega referências como Mano Brown, Djonga, Emicida, Kendrick Lamar, Negra Li, BK, Serena Assumpção, Rico Dalasam, Thiago El Niño e Erykah Badu. 

Lulo diz acreditar na mudança social através da arte. “É isso que me faz querer continuar na música, é pra isso que comecei a expor meus ideais”, conta. 

Há pouco tempo, o artista se apresentou na Feira Internacional da Música do Sul (FIMS).

“A sensação de estar no palco é bem difícil de explicar, um misto de ansiedade, paixão, euforia, entre várias outras sensações! Com certeza, fazer show é algo que me move e que quero continuar fazendo o máximo de tempo que eu conseguir”,

relembra Lulo.

Conforme o rapper, os próximos meses serão de muitos lançamentos: Ep “Longe de Casa” com quatro músicas, lançamento completo previsto para setembro de 2022. Mixtape “O Lulo” com oito músicas, lançamento completo previsto para dezembro de 2022. E o Álbum “Lado Negro” com lançamento das músicas a partir de fevereiro de 2023.

Luguiane

Luguiane (Foto: William Klimpel)

A cantora Luguiane, de 26 anos, usa a música para enaltecer a mulher preta. Sua sonoridade vem focando em um estilo “proibidão” e underground da cena trap brasileira.

A artista conta que suas maiores referências são as divas pop 2000’s e são elas que influenciam seus singles como “Dica”, “Latina” e “Yvy Park”. 

“Desde pequena, sempre gostei dessa coisa de me apresentar, sempre dando um jeito de aparecer de alguma forma. Enquanto criança eu sempre estava dançando, cantando ou imitando alguma cantora na TV”,

conta Luguiane. 

Porém, Luguiane tinha inseguranças com relação a música. Tudo mudou em 2019, quando ela lançou seu primeiro single “Comprei”. 

Luguiane foi uma das artistas a se apresentar na Feira Internacional de Música do Sul (FIMS), junto com vários outros nomes da cena musical curitibana. “Foi uma experiência muito única cantar no teatro da vila, fiquei bem emocionada em pisar em um palco de verdade, foi um mix de emoções”, relembrou a cantora.

Soul Ébano

Soul Ébano – Lia e Cadu no centro, à esquerda Thiago, à Direita Zak (Foto: Júlia Couto, Gabriela Antunes, Munir Challela e Rhyan Lopes)

“Samba de preto velho, Blues de preto escravo, Hip Hop de preto pobre”. É assim que Soul Ébano se apresenta.  

A Soul Ébano é composta por Cadu Albuquerque, compositor e vocalista. Zak é o guitarrista, beatmaker e produtor musical. Lia Carvalho é vocalista, compositora e multi-instrumentista. Thiago Oliveira é o baterista, beatmaker, produtor e MC. 

Suas maiores referências musicais envolvem a black music, como: blues, rock, jazz, funk, hip hop, rap, samba e soul. “O principal objetivo da Soul Ébano é a celebração da música negra”, conta a banda.

“Buscamos trazer vários elementos e aspectos da cultura musical negra, a fim de exaltar e resgatar toda essa ancestralidade. Somos uma banda independente, de artistas negros usando preto, cantando preto e tocando preto”,

diz a Soul Ébano.

Soul Ébano lançou dois singles em 2021: “Brisa Leve” e “Pode ir”. Atualmente, a banda trabalha em um EP com três faixas voltadas para o rock. 

Serginho Smith

Serginho Smith (Foto: Alefer)

Sérgio Roberto da Silva Júnior, mais conhecido como Serginho Smith, tem 14 anos e já domina o cenário artístico da capital. O cantor e compositor de rap e trap é ‘cria’ da Cidade Industrial de Curitiba (CIC). 

As músicas de Serginho retratam a realidade do jovem negro. “Nas minhas letras tento passar a vivência e o sonho dos moleques do gueto”, afirma.  

“Sabedoria” e “O Amanhã Será Melhor” são dois do seus singles no Spotify.

“Comecei no rap aos sete anos de idade, com influência do meu pai. Acompanhava ele nos shows que aconteciam nos bairros, até que um dia tive a oportunidade de subir ao palco e cantar. Aí nunca mais parei”, 

relata Serginho.

Suas referências envolvem artistas como os Racionais MC’S e Sabotage. “Minha maior referência mesmo é meu pai e minha mãe, que sempre me apoiaram e acreditaram em mim. Esse é o meu maior incentivo para seguir em frente e não desistir”, comenta.

Mano Cappu

Mano Cappu (Foto: Isa Lanave)

“Salve, salve, Mano Cappu na voz”. O morador da Cidade Industrial de Curitiba (CIC) é rapper, roteirista e diretor. Seu primeiro contato com o rap foi aos 10 anos de idade, assistindo ao videoclipe do Racionais MC’S “Diário de um Detento”, algo que ele diz se lembrar como se fosse ontem. 

“Os artistas que mais chegavam aos meus ouvidos eram dos rappers paulistas e cariocas: Realidade Cruel, Face da Morte e outros. O que todos esses grupos de rap tinham em comum? A mensagem: pobreza, violência policial, drogas, armas e cadeia”,

relatou.

Hoje, Mano Cappu passa a sua mensagem através de suas letras que incorporam os singles “Igreja Branca”, “G.R.I.T.O”, “Carta Branca” e “Disciplina”. 

Cappu também tem narrativas cinematográficas que nasceram a partir de sua vivência injusta no cárcere privado. Sua trilogia se chama: “Bença”, “Quando eu For Grande” e “X-23” que será lançada em breve. 

“Posso garantir que será um olhar verossímil sobre o cárcere, um olhar de quem esteve atrás das grades. […] Meu atual foco no cinema brasileiro é contar minhas histórias como um sobrevivente do sistema prisional”, afirma. 

Wes Ventura

Wes Ventura (Foto: Luciano Schmidt)

Wes Ventura é cantor, compositor, artista de rua e instrumentista natural de Barretos (São Paulo). Filho da dona Luceli Ventura, ele afirma ser apaixonado desde sempre pela arte.

“A minha música retrata minhas vivências num corpo negro e como artista de rua. Falo de amor, liberdade e revolta. A minha música fala de empoderamento, aceitação e também de ancestralidade, da importância de manter acesa a chama da criança interior”,

conta Wes. 

Aos 13 anos, Wes comprou o seu primeiro violão, aprendeu a tocar sozinho e passou a compor suas músicas. Hoje, com seu som “Em cima do Muro” e “Nada É de Graça, Neguim”, ele vem conquistado a cena cultural de Curitiba. 

A maior referência de Wes é a sua mãe. “Me espelhei muito na sua alegria e forma de ver a vida do jeito mais doce. Mulher negra e da roça, criou eu e meus dois irmãos junto com meu pai, Emerson. Sofreu quando eu fui embora de casa ainda jovem, mas nunca deixou de acreditar que eu iria alcançar meu objetivo de vida, que era viver da minha música”.

Agora o músico está gravando seu primeiro disco intitulado “Na Madruga Sem Pressa”. 

23 jul 2022, às 08h00. Atualizado em: 22 jul 2022 às 20h05.
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